A mudança de mão da Rua Humaitá desagrada moradores da Rua Guararapes, que passaria a atrair boa parte do fluxo de veículos e deixaria de ser a via tranquila de hoje. A adoção de regras para navegação e uso do Igapó contraria os sócios do Iate Clube e moradores às margens do lago, que desejam continuar desfrutando dos prazeres de suas águas como fazem nas últimas décadas. Os camelôs resistem em deixar ruas e praças do centro da cidade para se transferirem para o ''shopping popular'', com receio de que o faturamento de suas barracas despenque.
Londrina é uma cidade jovem, com 67 anos, mas crescimento meteórico. Em menos de sete décadas, o município surgiu, cresceu e conquistou a posição de terceiro do Sul do País. Talvez isso induza de alguma forma o londrinense a imaginar que a cidade ainda seja aquela de pouco tempo atrás, com ruas tranquilas, calçadas espaçosas e um lago para o lazer de poucos.
Não é mais. Um dos grandes centros urbanos do País, com população que já beira meio milhão de pessoas, Londrina cresceu. O trânsito da cidade mudou muito e rapidamente. São 150 mil veículos circulando por suas ruas e avenidas, tirando o silêncio e a paz de moradores ''tradicionais'' de todas as regiões da cidade. Quando compraram lotes e construíram as suas casas, os moradores da Rua Humaitá também viviam tranquilos. Tanto quanto os da Avenida Higienópolis, JK, Bandeirantes, Maringá...
Quando um botinho cruzou o Igapó levando o bispo dom Geraldo Fernandes e o prefeito Antonio Fernandes Sobrinho, na inauguração do lago em 10 de dezembro de 1959, ninguém podia imaginar que no curto tempo de 40 anos a cidade veria a sua população de 70 mil habitantes multiplicada por seis. Na época, o lago artificial e a barragem surgiram como solução para o problema da drenagem do Ribeirão Cambezinho. Foi um grande presente para a cidade. Um presente que não é do clube social, não é de meia dúzia de residentes às suas margens, não é de alguns desportistas náuticos. É da cidade de quem já estava aqui e de quem chegou depois.
Os camelôs reivindicam o direito de trabalhar e viver em Londrina. É legítimo. Mas como todos os trabalhadores, devem se submeter às leis, sem vantagens sobre colegas de ofício de todos os portes. Não podem simplesmente ocupar vias públicas sob o pretexto frágil de que faziam isso antes. A cidade está mudando a todo momento. Para todos.
Ruth Meira