Em 21 de setembro de 1924 foi instalado o município de Cambará, um centenário que marca as comemorações de tantos outros vindouros nos próximos anos acompanhando o traçado da Ferrovia São Paulo – Paraná até adentrar Londrina. Em Cambará, há cem anos, o Paraná foi apresentado a Lord Lovat, integrante da Missão Montagu que analisava a situação econômica e fiscal do Brasil para banqueiros britânicos. Lovat era um pesquisador das possibilidades de desenvolvimento do País, um prospector de investidores britânicos que haveriam de criar a Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP). Antonio Barbosa Ferraz Junior foi quem mostrou a Lovat o potencial econômico da terra roxa, do café e abertura desta grande região ao mercado nacional e internacional.

Barbosa Ferraz, ao que consta, conheceu a região ao Norte e Oeste de Jacarezinho ainda por volta de 1908, participando de uma caçada que era uma atividade tão comum quanto as pescarias que hoje se promovem. Já havia fazendas e fazendeiros na área e descreviam-na como um “maciço de arvores frondosas”, sem clareiras. A chegada, naquele ano, da Ferrovia Sorocabana à Estação de Ourinhos-SP possibilitou uma facilidade no transporte de cargas em grandes volumes que favorecia a produção agrícola em grande escala.

Barbosa Ferraz adquiriu grande extensão de terras atraído pela fertilidade e pela ausência de uma legislação, como a existente em São Paulo, que limitava a implantação ilimitada de cafezais. A sua Companhia Agrícola Barbosa, em pouco mais de uma década, assumiria a posição de maior estabelecimento agropastoril e também industrial, considerando todo o Estado do Paraná.

Cambará, em seus primeiros decênios, teve uma agricultura baseada na produção de café, com grandes fazendas que empregavam muitas vezes centenas de famílias de colonos. Registra-se que muitos, senão uma maioria destes trabalhadores, eram de origem estrangeira: italianos, espanhóis, eslavos, japoneses etc. Nestas fazendas, adotava-se um sistema em que ao colono era permitido cultivar principalmente o milho e o feijão em meio ao arruamento dos cafeeiros, além do arroz em áreas de baixada.

A produção ou sua maior parte era a possibilidade da extensão de um ramal ferroviário da Sorocabana até Cambará e mesmo adiante, a partir de Ourinhos, fez aumentar o afluxo de compradores de grandes extensões de terras na região. Compravam-se as propriedades nominais de antigas posses do século XIX, de seus herdeiros e mesmo de terras devolutas do Estado do Paraná.

Como a extensão da Sorocabana não foi efetivada, em 1920, impulsionados pelos discursos e artigos publicados pelo deputado federal por São Paulo Cincinato Braga, que defendia a construção de uma ferrovia ligando Salto Grande à Guaíra, depois a Assunção no Paraguai e sua interligação com os barcos a vapor argentinos dos Rios Paraná e Paraguai, decidiu-se pela construção de uma ferrovia com recursos próprios dos fazendeiros locais. Os Barbosa, Antonio e seus filhos, possuíam investimentos muito diversificados e, ao que demonstraram, eram muito instruídos na potencial capacidade econômica do Norte do Paraná, ainda um projeto de exploração.

A Ferrovia Noroeste do Paraná foi formalmente constituída em agosto de 1920 para, inicialmente, ligar por meio de uma estrada de ferro com um metro de bitola, a localidade de Cambará até Ourinhos, meta atingida completamente até 1925. A concessão de construção contemplava a sua extensão até Jataizinho, na Comarca de Tibagi, tendo seus estudos e projetos sido feitos nos anos seguintes. Essa ferrovia seria adquirida pelos britânicos da Paraná Plantations, tornando-se o embrião fecundo que geraria Cornélio Procópio, Londrina até Maringá.

Sob a égide da Companhia Barbosa, Cambará tornou-se município com interesses econômicos um tanto que diversos daqueles que conduziam Jacarezinho aquele tempo. Uma série de conflitos envolvendo a companhia, seus proprietários e o juiz de Jacarezinho levaram a implantação da Comarca de Cambará em 1928. A cidade foi o ponto de passagem para todos os que buscaram “fazer o Norte”, se “firmar na vida”, trabalhando nos sertões do Norte do Paraná tornados acessíveis pela CTNP.

Meu cafezal em flor, quanta flor no meu cafezal! Cem anos de Norte do Paraná, de trabalho, de dedicação e de construção de uma cultura pé vermelho!

Roberto Bondarik, professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, de Cornélio Procópio