Muitos jovens que saem de casa hoje para brincar o carnaval não viveram o pânico que a aids causou nas décadas de 1980 e 1990, quando o diagnóstico positivo da doença era praticamente uma sentença de morte.

A foto do cantor Cazuza, em estágio terminal, em 1990, está na memória de quem assistiu a agonia do artista, mas certamente não tem o mesmo significado para quem nasceu anos depois.

É justamente esse o problema: uma geração “sem medo” tem mais chance de se expor ao vírus HIV que causa a aids. É óbvio que não se deve propagar o medo ou espalhar pânico. O “medo” mencionado aqui significa responsabilidade com a própria vida e com a dos outros.

Em três décadas, os avanços da ciência e um acentuado trabalho de conscientização nas décadas de 1990 e 2000 ajudaram a mudar o significado da aids.

Campanhas informativas, prevenção, diagnóstico precoce, atenção médica continuada e tratamentos mais eficientes foram capazes de mudar o conceito para doença crônica, com seus portadores podendo viver anos com aids de forma controlada.

Na edição do último fim de semana (22 e 23), a FOLHA trouxe entrevista com o vice-presidente da Abia (Associação Brasileira Interdisciplinar de aids), Veriano Terto Júnior.

Ele alertou para o fato de que o conservadorismo, quando não incentiva o debate sobre a aids, pode acabar influenciando para um aumento do número de casos.

Este ano, durante o carnaval, o Ministério da Saúde deve distribuir 128,6 milhões de camisinhas nas unidades básicas de saúde de todo o País. Nos quatro dias de festa, muitas pessoas acabam tendo um comportamento sexual de risco, por isso, é importante intensificar a campanha e a distribuição de preservativos.

Mas a preocupação deve existir o ano todo. E elevar o tom de alarme para que as pessoas lembrem que o HIV está por aí. Estima-se que 900 mil pessoas vivam com o vírus no Brasil e que 135 mil ainda não saibam que estão infectadas.

Elevar o tom do alarme não significa medo e nem discriminação. Significa que a prevenção deve falar mais alto.

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