Carnaval 2022 vem politizado pelas escolas e os blocos
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sexta-feira, 22 de abril de 2022
Folha de Londrina
Durante dois anos o grito carnavalesco ficou preso na garganta dos brasileiros. As restrições pela pandemia frustraram muitos foliões e, agora, com a liberação dos protocolos de segurança, parte da população troca as máscaras de proteção contra a Covid-19 pelas máscaras de lantejoulas, caras de palhaço e, as preferidas por muitos brasileiros, aquelas com a cara dos políticos.
Pudera, em ano de eleição nem precisa estimular o brasileiro a fazer sátiras no carnaval, já é praxe. Mas nem todas as críticas são personalizadas, o que vêm por aí são vários enredos que tocam na ferida da discriminação racial e na tristeza causada pelas perdas na pandemia, além, é claro, das críticas ao governo.
A Beija-Flor, escola de samba carioca prestigiada do Grupo Especial, vai cantar alto e bom som: "Foi-se o açoite, a chibata sucumbiu, mas você não reconhece o que o negro construiu..."
A Portela , entre outras, também vem firme pondo a temática na roda para o Brasil inteiro ouvir e, quem sabe, compreender: "Quem tenta acorrentar um sentimento, esquece que ser livre é fundamento, matiz suburbano, herança de preto, coragem no medo!"
De crítica em crítica, o fato é que pôr o debate racial na avenida também é uma forma de fazer política e, se em alguns anos as escolas e os blocos já deixaram isso claro, agora a afirmação da identidade negra está mais forte que nunca e extrapola o carnaval para chegar, por exemplo, aos cinemas, onde o filme "Medida Provisória", dirigido por Lázaro Ramos, aproveita um ideia distópica - a de enviar os negros de volta à África - para também politizar as telas.
A Escola de Samba Viradouro, que vai evocar os orixás como deuses da cura, também vai desfilar lembrando a gripe espanhola de 2019 e sua conexão com a crise provocada pela pandemia no Brasil. A ideia geral, entre bumbos e tamborins, é fazer um carnaval cada vez mais politizado passando longe da ideia de um mero entretenimento, embora a ordem seja sambar e se divertir também.
Mas as baterias da polêmica se voltaram esta semana para São Paulo onde a Gaviões da Fiel decidiu fazer uma crítica política mais direta abordando a questão de gênero para se referir ao presidente da República. Depois de atirar no formigueiro e causar muita repercussão, a escola acabou assoprando um pouco o debate ao afirmar que o personagem que vão levar para a avenida "poderia ser qualquer governante da história do País", numa clara tentativa de baixar a poeira.
O fato é que o carnaval no Brasil sempre foi palco de protestos, sátiras de toda ordem, e dá para contar nos dedos os presidentes que nunca foram alvo de deboche bem embalado no ronco das cuícas.
Nesta sexta-feira (22), os desfiles começam nas duas grandes capitais brasileiras - Rio e São Paulo - e quem está no interior vai poder passar as madrugadas grudado na telinha enquanto aguarda, para o segundo semestre, um evento que não deixa de ser também uma festa calcada na ideia de mais democracia: as eleições.
Obrigada por ler a FOLHA!