Bets colocam o comércio varejista em jogo
As apostas, popularmente conhecidas como "bets", estão consumindo parte significativa da renda dos brasileiros
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 07 de outubro de 2024
As apostas, popularmente conhecidas como "bets", estão consumindo parte significativa da renda dos brasileiros
Fernando Moraes
Apostas, que inicialmente poderiam parecer uma forma de entretenimento, estão se transformando em uma armadilha financeira, provocando o endividamento de famílias e prejudicando o comércio
Outro dado alarmante pode ser observado num levantamento do Banco Central ao revelar que, em agosto de 2024, beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 3 bilhões em apostas eletrônicas, com R$ 2 bilhões transferidos via Pix por chefes de família.
A legalização das apostas esportivas no Brasil, pela Lei nº 13.756/2018, trouxe a modalidade de quota fixa, permitindo que apostadores soubessem os possíveis ganhos ou perdas. Sua regulamentação veio a ocorrer em 2023, com a criação de uma Medida Provisória que prevê taxas de operação e tributação sobre os lucros, visando à transparência e o controle ao mercado, mas desafios como fraudes, vício em jogos e empresas fora das normas ainda persistem, exigindo maior fiscalização e medidas governamentais.
O que nem o Ministério da Fazenda esperava é que a liberação das apostas esportivas trouxesse consigo uma nova dinâmica econômica que está causando impactos profundos e negativos, especialmente nas camadas mais vulneráveis da população e, por consequência, no comércio.
As apostas, popularmente conhecidas como "bets", estão consumindo parte significativa da renda dos brasileiros, afetando diretamente o orçamento familiar, conforme indicam os mais recentes levantamentos, inclusive, do próprio Banco Central.
Impacto negativo no comércio
Os jogos de azar também estão impactando negativamente o comércio, como evidenciado pela rede de supermercados Assaí. A empresa relatou que o aumento nas apostas esportivas tem reduzido o volume de compras, pois os consumidores estão direcionando aos jogos parte de sua renda, que antes iria para suprir as necessidades básicas. Isso significa perda para o comércio local e para a economia em geral.
Bolsa Família
Outro dado alarmante pode ser observado em uma análise técnica do Banco Central ao revelar que, em agosto de 2024, beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 3 bilhões em apostas eletrônicas, com R$ 2 bilhões transferidos via Pix por chefes de família. Esse gasto indica um impacto devastador nos orçamentos de famílias que dependem de programas sociais. O valor real pode ser ainda maior, pois não inclui outras formas de pagamento e prêmios recebidos, sugerindo um efeito significativo sobre a renda familiar. Podemos dizer que as apostas, inicialmente vistas como entretenimento, estão se tornando uma armadilha que compromete a renda das famílias, dificultando a cobertura de necessidades básicas.
Círculo vicioso
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também expressou preocupação com o crescimento descontrolado das apostas, destacando que as transferências via Pix para plataformas de apostas triplicaram desde janeiro, o que está aumentando a inadimplência, especialmente entre as famílias de baixa renda.
A liberação do jogo de azar foi um erro que precisa ser corrigido. Agora, é hora de os governantes tomarem medidas enérgicas e contundentes. Deputados federais, senadores, presidente da República e o Poder Judiciário precisam agir para proteger as famílias brasileiras e a normalidade da economia. A retirada imediata dessas plataformas, enquanto não houver um controle adequado, é uma medida urgente. Além disso, políticas públicas de conscientização sobre os perigos do vício em jogos de azar devem ser implementadas para reduzir o impacto social desse problema.
Fernando Moraes, presidente da Faciap (Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Paraná)