As milícias digitais e o risco à democracia
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quarta-feira, 17 de março de 2021
Folha de Londrina
Após a passagem da médica cardiologista Ludhmila Hajjar, por Brasília, no último domingo, precisamos falar sobre as milícias digitais. O termo já foi usado tanto pela direita quanto pela esquerda para falar sobre o compartilhamento de fakes news.
Certamente, um exemplo absoluto de milícia digital foi dado na capital federal, quando apoiadores do presidente da República que não concordavam com o nome de Haijar para substituir o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, voltaram todas as armas virtuais para a médica.
A cardiologista afirmou ter recebido ameaças de morte após ter se reunido com Bolsonaro no último domingo, em Brasília, para discutir a possibilidade de ela assumir a pasta. As declarações de Haijar foram dadas em entrevista à CNN Brasil. Ela afirmou que seu número de celular foi divulgado em grupos de WhatsApp, o que resultou em uma onda de ataques. Uma das mensagens até mencionaria o número do quarto que ocupava em um hotel, em Brasília. Rapidamente, perfis fakes dela nas redes sociais foram criadas passando todo tipo de desinformação. Assustada, hoje, Haijar afirmou que teme pela família e está usando um carro blindado e segurança.
O comportamento da “turba digital” enfurecida contra a médica não deve ser encarado como algo sem importância ou normal. A democracia não admite esse tipo de movimento contra uma pessoa que desagrada determinado grupo.
A médica teria recusado o convite, alegando que não houve uma “convergência técnica” entre ela e o presidente. O fato de defender restrições de circulação de pessoas para barrar o coronavírus e não ser adepta do chamado “tratamento precoce” certamente influenciou na decisão.
O escolhido foi outro cardiologista Marcelo Queiroga, mais alinhado com Bolsonaro em questões do enfrentamento da Covid-19. Que o novo ministro tenha sucesso e possa realizar um plano realmente eficaz para conter a pandemia, principalmente no que diz respeito a uma coordenação nacional da crise.
Independente do nome escolhido e da diretriz de atuação à frente do ministério, é necessário que se investigue as denúncias feitas por Hajjar para que não volte a se repetir os episódios de domingo. Há leis que punem os crimes cometidos pela milícia digital, como a criação de perfil fake e ameaças via ambiente digital. Aplicá-las, agora, seria dar um bom exemplo.
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