No último domingo, aqueles que acreditavam entender a realidade apenas assistindo telejornais ou lendo notícias ficaram desnorteados. Com base na narrativa propagada pela maioria dos veículos de imprensa, o governo Bolsonaro havia chegado ao fim com apenas cinco meses de existência. Segundo a versão que nos contavam, aquele surpreendente apoio popular que arrastava multidões por onde passava durante a campanha eleitoral era só uma onda e já havia se dissipado.

Contudo, esse presidente, supostamente tão impopular, mesmo sem convocar ou sequer comparecer às manifestações, foi o principal motivo para dezenas de milhares de cidadãos terem saído às ruas, em centenas de cidades. Para defender o governo Bolsonaro - e tudo o que ele representa – multidões organizaram-se de modo espontâneo para exigir do Congresso, entre outas pautas, a aprovação de uma reforma que mexe na própria aposentadoria, mas que é o melhor a fazer pelo futuro do País das futuras gerações. Foi algo inédito e que demonstrou uma maturidade democrática fascinante. Para quem fazia previsões apocalípticas com base em ardilosas notinhas políticas plantadas na imprensa, os atos do dia 26 de maio foram uma pancada e tanto. Uma dose cavalar de Brasil real.

O enorme abismo entre as análises feitas por grande parte da mídia e as verdadeiras demandas do povo já havia ficado claro em 2018, quando a candidatura de Jair Bolsonaro era tratada com sarcasmo, sem chances de vitória. Agora, no entanto, fica evidente que essa parte da mídia, além de nunca ter reconhecido as próprias falhas (ou mentiras), prova que não abre mão de sua bolha ideológica, ainda que a contradição entre enredo e fato fique evidente, e que subestima demais o povo.

Certamente, muitos desses formadores de opinião, determinados a transformar rancor em conteúdo, nutriam a esperança de que as ruas estivessem vazias ou que fossem ocupadas por poucas dúzias de radicais, fazendo reivindicações autoritárias, preferencialmente de modo bastante agressivo. É fácil imaginar o quão decepcionados ficaram ao ver que os atos foram tão numerosos quanto os que ocorriam em período eleitoral, que as pautas hegemônicas eram de uma sensatez admirável e que entre os manifestantes havia muitas mulheres, idosos e famílias com bebês. Ficou complicado vender a imagem de hostilidade que gostariam com um público desses.

Frustrações à parte, faz-se necessário destacar que a relação da mídia com o povo não precisa ser assim. Se os jornalistas estão mesmo preocupados em compreender a realidade social na qual estão inseridos, precisam estar abertos a analisar sem preconceitos os meios pelos quais o povo mais se manifesta publicamente: os atos de rua e as redes sociais. Libertem-se do restrito círculo opiniões progressistas que alimentam fantasias e os fazem errar tanto. Ainda dá tempo de corrigir e todos ganhariam com isso.

FILIPE BARROS, deputado federal pelo PSL - PR