Dados recentes do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) revelam um cenário ambíguo sobre a adoção no Paraná. Apesar de uma queda de 12% no número de adoções entre janeiro e setembro de 2024, em comparação com o mesmo período de 2023, o total ainda supera os registros de anos anteriores. Essa oscilação demonstra mais do que números e estatística, ela reflete as complexas dinâmicas sociais e legais que envolvem o processo de adoção no Brasil.

Especialistas, como a promotora Fabiana Pimenta Soares, da 22ª Promotoria de Justiça de Londrina, que atua na área da Infância, apontam que a redução no número de adoções pode ser explicada pelo fortalecimento de políticas públicas que previnem a necessidade de acolhimento institucional.

Analisando por esse prisma, a evolução é positiva, pois conclui-se que mais crianças estão sendo mantidas em ambientes familiares protegidos. Contudo, essa mesma situação também expõe a dura realidade das filas de adoção: embora haja mais de 2.500 pretendentes no Paraná, apenas 465 crianças e adolescentes estão disponíveis, muitas delas fora do perfil preferido pelos adotantes. Em Londrina, são 15 crianças e adolescentes para 172 pessoas aptas à adoção.

No Paraná, a idade mais procurada pelos adotantes é de crianças entre 4 e 6 anos, seguido de 2 a 4 anos. Essa também pode ser uma das justificativas para a queda de adoções, já que há poucas crianças disponíveis nesse perfil.

A preferência por crianças pequenas contrasta com a realidade da maioria dos acolhidos, que têm idades mais avançadas. A resistência dos pretendentes brasileiros à adoção tardia reflete estigmas sociais e desafios culturais. Muitos potenciais pais adotivos hesitam em incluir adolescentes em suas famílias, temendo dificuldades na construção do vínculo e na superação de traumas passados.

É muito importante que a sociedade enfrente os tabus em torno da adoção tardia, assim como é crucial que os preconceitos sejam desconstruídos. Campanhas educativas podem ajudar a incentivar candidatos a pais adotivos a considerarem crianças e adolescentes mais velhos.

Há ainda muitos desafios a serem vencidos. A adoção é, acima de tudo, uma decisão de amor e responsabilidade. A transformação da realidade das crianças e adolescentes que esperam por um lar exige um esforço conjunto do Estado, da sociedade civil e das famílias que optam por adotar um filho.

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