A posse de Trump e tudo que vem implicando significa um adeus a um tipo de mundo. A segunda década do século XXI nos introduziu no labirinto de um caminho sinuoso, conduzindo-nos abruptamente a um mundo desconhecido, que vem tomando corpo. Ele se impõe sobre nós, nos tortura e nos envolve num turbilhão cultural tão forte, que expurga a civilização da qual tanto nos orgulhávamos. Não é um admirável mundo novo! Impulsionado pela tirania das plataformas digitais, este velho e arcaico mundo se traveste de novidade, sem, contudo, esconder o odor fétido da barbárie.

A pós-modernidade já nos havia trazido uma sociedade líquida com as cores da transitoriedade e fluidez, a exacerbação da individualidade em forma frequente de individualismo e a redução a cinzas de qualquer estabilidade axiológica. Por incrível que pareça, esses tempos são do passado! Contatamos em 2025 uma revolução total, protagonizada pelos bilionários do capital associados à política e pelos senhores da tecnocracia nada afeitos à democracia. As relações internacionais, até agora alicerçadas em organismos surgidos no pós-guerra, tornam-se obsoletas “do dia para a noite” e motivo de chacota. A diplomacia charmosa e refinada, que caracterizava os salões das grandes decisões, de repente vê-se confrontada pela prepotência de quem tem dinheiro e detém armas – de preferência nucleares!

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Trump admira Putin, que por sua vez preferiu Trump, que diz respeitar Kim Jong Um, um aliado da Rússia (além da China, eleita inimiga comercial número um dos EUA)! O mesmo Trump que ameaça invadir o Panamá, conquistar a Groenlândia, anexar o Canadá e mudar nomes de regiões do Globo. A União Europeia que, delicadamente, cria objeções a Trump e às suas aspirações “exóticas”, mas reais. A mesma que pertence à Otan, cujo Trump quer obrigar a aumentar em 5% do PIB os gastos militares!

Trump, que leva para a Casa Branca Elon Musk, que sugere “libertar” a Inglaterra do atual primeiro ministro, com o mesmo termo que Putin usou para invadir a Ucrânia! O gênio que despeja milhões de dólares no partido alemão da extrema direita, a AFD! O leitor há poucos anos me acusaria de delírio. Hoje, sabe que infelizmente a realidade é um pouco mais cinzenta do que a descrita aqui!

Se um aprendiz de ditador ocupa a Casa Branca, o primeiro presidente americano condenado e sentenciado, com pensamentos e ideias tão alarmantes, a coisa só pode ficar pior se tiver como aliados os grandes magnatas das plataformas digitais. Musk, ao colocar o seu aplicativo X a serviço de Trump na campanha eleitoral, viu render 134 vezes o seu “investimento”!

Agora o mundo ficou estupefato com mais uma postura de “vassalagem moderna”. Mark Zuckerberg, o dono da META aderiu à moda dos vencedores: do fact-check à conduta de ódio! Sem nenhum controle de veracidade, a verdade cede à versão e um salve-se quem puder se instala nas redes, em que os preconceitos e a intolerância farão inúmeras vítimas. A barbárie elimina assim qualquer resquício de civilidade que a civilização decadente ainda possuía.

O evento Trump pôs em compasso de espera todas as decisões, eleições, tratados de paz e encerramento de guerras. Há quarenta anos, ele seria mais um presidente dos EUA, tão inócuo e desinteressante, que o resto do mundo o ignoraria. Foi assim com um Bush, que invadiu o Iraque alegando algo que não havia e pouco impacto causou na geopolítica mundial. Mas em 2025 os pilares da Terra estão tremendo! A democracia corre seríssimo risco e a liberdade absoluta de expressão, catapultada para a internet, tem potencial para eliminar o mundo que nos embalou! Nada será como antes! O dia 20-01-2025 marcará o fim simbólico do neoliberalismo global. Os seus elementos sociais estão mortos. Nasce um capitalismo de Estado pós-moderno. Os plutocratas se multiplicarão. Os EUA flertam seriamente com a implosão!

Padre Manuel Joaquim R. dos Santos, Arquidiocese de Londrina