Há uma frase do escritor Oscar Wilde muito interessante para pensarmos como as transformações nos fazem ser pessoas diferentes ao longo da vida. A frase diz: Desculpe, mas não reconheci você, eu mudei muito! Geralmente, quando não reconhecemos alguém, pensamos que a outra pessoa mudou e por estar diferente fica irreconhecível. Porém, essa frase espirituosa nos mostra que, às vezes, nós é que mudamos e aquilo tudo que antes era tão reconhecido já não o é mais.

Coisas que antes pareciam nos divertir tanto e fazer tanto sentido no passado, uma hora não faz mais sentido algum. Desejos que antigamente pareciam ser tão importantes podem evaporar e dar espaço para outros. Estamos sempre em mutação e isso é bom, porque somente o que está vivo pode mudar e evoluir. O que está morto não muda nunca.

Assim como interesses e desejos mudam no decorrer da vida os relacionamentos também mudarão. Casamento e algumas amizades também sofrerão transformações. Muitas uniões terminam porque um ou os dois mudaram a tal ponto que aquela união não traz mais sentido. Sim, isso acontece. Nem todas as separações são ruins. Pode ser que as transformações tenham levado um a não mais reconhecer o outro.

Mudanças de carreira também são possíveis. Há pessoas que sempre se dedicaram e investiram numa dada carreira, até sendo bem-sucedidas, mas chegou um momento em que as transformações internas as fizeram tomar outro rumo, surpreendendo elas mesmas ou as pessoas próximas. Enquanto estamos vivos e nos envolvendo com a vida nós aprendemos e são justamente estas aprendizagens que nos transformam.

Quanto mais vivemos mais iremos nos transformar, mais iremos evoluir.

O contrário, ou seja, não se permitir aprender com as experiências de vida, nos deixa estancados, sem nunca nos transformarmos e, por isso, presos às mesmas coisas. São pessoas que estão sempre a reclamar da vida e que possuem uma visão extremamente negativa sobre tudo e todos. Creem já saber tudo e tornam-se arrogantes e chatos. Em outras palavras, são pessoas que não mudam e se mudam é tão pouco que se torna imperceptível. Estão biologicamente vivos porque andam, comem e funcionam, mas não vivem verdadeiramente. Daqui alguns anos se você os encontrar eles estarão na mesma, com as mesmas ideias e pensamentos, sem nenhuma mudança. Sempre serão reconhecidos.

Essas pessoas que não mudam desperdiçam a própria vida. Ficarão sempre presas a tudo aquilo que é conhecido. Suas dores serão sempre as mesmas. Seus sofrimentos se repetirão sem fim. Suas queixas e reclamações serão sempre sobre os mesmos pontos. Triste, mas há muitas pessoas nesta posição. Carregando sempre os mesmos desejos, nunca crescem. Não são sujeitos da própria vida, mas ficam submetidos ao conhecido.

Uma criança, quando tudo vai relativamente bem em seu desenvolvimento, vai se transformando a olhos vistos. Tudo nela muda. Fica diferente aos olhos dos demais, mas,

acima de tudo, o mundo fica totalmente diferente aos olhos dela. O bebê que vira a criança, que vira o adolescente, que vira o jovem, que se transforma no adulto, que chega à meia idade, etc. estará tão mudado que, em cada nova etapa de sua vida, terá um mundo novo para conhecer.

Cada novo olhar traz a semente de um mundo completamente novo e mudado

SYLVIO DO AMARAL SCHREINER é psicanalista em Londrina