A Iscal (Irmandade da Santa Casa de Londrina) chega aos 88 anos com uma grande e importante mudança. A Santa Casa dobrou de tamanho e teve a estrutura física e tecnológica modernizada. Ao mesmo tempo, acontece uma renovação administrativa, com a mudança na gestão executiva. Essa história merece ser relembrada.

Em 1934, quando Londrina se emancipava como município, os pioneiros já sonhavam com um grande hospital para suprir a demanda crescente. Em 01 de março de 1936, eles fundaram a Iscal, sob a coordenação de Willie Davis, Arthur Thomas e José Antônio Camargo Ferraz. A cidade tinha 10 mil habitantes.

Em 7 de setembro de 1944 era inaugurada a Santa Casa, com José Bonifácio e Silva como provedor. De bloco em bloco, com assinaturas como do arquiteto Artigas Vilanova, o hospital foi crescendo. Em 2024, chegou ao quarto bloco, projetado pelo londrinense Nélson Giácomo. Hoje, Londrina com 556 mil habilitantes, conta com 420 leitos na Santa Casa. Somado aos demais hospitais da Iscal, são 550 leitos. O que a torna a maior Santa Casa do Paraná.

O pioneirismo reflete também no ensino em saúde. Em 1960, as Irmãs de Schoenstatt fundaram a primeira escola técnica de enfermagem do interior do Paraná. Em 1967, com o início do curso de medicina em Londrina (atual UEL), a Santa Casa foi o hospital escola antes do Hospital Universitário. Em 2012 ajudou a criar e recebeu o curso de medicina da PUC Londrina.

Também foi pioneira no uso de novas tecnologias médicas na região, como a litotripsia, videolaparoscopia, stents cardíacos e neurológicos, robôs e IA. É o único hospital do norte e noroeste do Estado autorizado pelo Ministério da Saúde a fazer transplantes cardíacos. Na cirurgia cardíaca infantil é referência do Sistema Nacional de Alta Complexidade.

Campo de estágio para universidades locais e internacionais, a Santa Casa possui a sua própria pós-graduação com 13 residências médicas e cinco áreas da residência multiprofissional, reconhecidas pelo MEC e respectivas sociedades.

Hoje com 1980 funcionários está entre as maiores empregadoras privadas de Londrina. Essa equipe, somada ao corpo clínico de 700 médicos, é responsável por mais de 200 mil atendimentos ano. A maioria, 83%, é para pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde), do qual participou na formulação das leis municipais, incluindo o Conselho Municipal de Saúde. Em parceria com o município, também ajudou a ampliar o Programa Saúde da Família de Londrina.

Para chegar a essa relevância local e regional, a Iscal contou sempre com o apoio de autoridades, voluntários e profissionais a quem agradecemos um a um. Em particular, como aluno da primeira turma de medicina de Londrina, que frequentou as aulas na Santa Casa, sinto-me honrado e agradecido de ter contado com a confiança dos colegas médicos e da mesa administrativa para dirigir essa instituição, como diretor clínico e depois como superintendente, superando muitas adversidades.

A luta precisa seguir e deve ser sempre pela vida. Como repetia o patrono da primeira turma de medicina, dr. Dalton Paranaguá, “a saúde do povo é a suprema lei”. Ao deixar a gestão da Iscal, sinto que o sonho dos fundadores se concretizou e a missão foi cumprida. Tenho orgulho e gratidão por ter convivido com tantas pessoas que nos inspiraram e auxiliaram a chegar a essa grande obra em Londrina - um símbolo de amor ao próximo, ao cuidar da saúde e, portanto, da vida. Meus sinceros agradecimentos a todos que colaboraram nesta jornada.

Fahd Haddad é médico neurocirurgião, mestre em Gestão de Serviços de Saúde pela UEL. Superintendente da Iscal de 1989 a 10 de abril de 2024.