Durante muitos séculos, o conhecimento empírico era tudo que a humanidade tinha para explicar os fenômenos da natureza. O esforço e a curiosidade de alquimistas e curandeiros criaram, por meio de muitas experiências com base no processo de tentativa e erro, a base da ciência como a conhecemos na atualidade. Neste ínterim, muitos absurdos foram cometidos. Mercúrio era receitado como elixir da longa vida. Fezes sobre a pele curariam infecções. O engodo mais célebre de todos, no entanto, era a transmutação de metais menos nobres em ouro.

Para que a ciência chegasse ao nível de precisão atual, foram necessários séculos de depuração das ideias, de estudos que consumiram toda uma vida de uma série de grandes pesquisadores em todo o mundo. O francês Antoine Laurent de Lavoisier (1743-1794), considerado o pai da Química Moderna, foi o responsável por descobrir, em 1772, o oxigênio e seu papel na combustão. Antes disso, a ideia era de que se um material queimava, era porque continha “flogisto” em sua composição, teoria que caiu por terra após a descoberta de Lavoisier.

Em 1789, o químico francês publicou a obra "Tratado Elementar de Química", que fornecia uma nomenclatura moderna para 33 elementos. Naquele mesmo ano, a Revolução Francesa derrubou a ordem política existente e Lavoisier foi considerado um traidor do Estado. Preso em 1793, acabou sendo guilhotinado no ano seguinte, aos 51 anos. Diante de apelos pela vida de Lavoisier, a posição do governo foi: “A República não precisa de cientistas”. O matemático francês Joseph-Louis Lagrange resumiu o episódio: “Só um minuto para cortarem aquela cabeça e talvez cem anos não nos deem outra igual”.

Sem o devido reconhecimento, cientistas se mostram a esperança para a humanidade em tempos de exceção, como os dias atuais, em que uma pandemia assola o planeta. Algumas das mentes mais privilegiadas do mundo estão enfurnadas dentro de laboratórios em uma verdadeira corrida pela vida para descobrir uma vacina contra o novo coronavírus. São os mesmos pesquisadores que, tempos atrás, gastavam parte do seu precioso tempo para convencer governos da importância do investimento em ciência.

Não há mais espaço para obscurantismo. Em pleno século 21, é impensável que lunáticos que apoiem movimentos antivacinas ou a teoria da terra plana encontrem quem ainda lhes deem crédito. Ainda mais grave se, entre esse público, houver pessoas ou políticos com capacidade de influenciar e afetar outras tantas. A pandemia parece ser uma triste lição de que não podemos trocar o conhecimento científico por achismos irresponsáveis.

Ao se fazer uma rápida análise histórica, há hoje uma situação um pouco mais confortável do que em pandemias anteriores. Seja pela ciência que evoluiu, seja pela tecnologia que permite que a informação circule com velocidade. Então, faça sua parte, não compartilhe notícias falsas e, acima de tudo, acredite na ciência.

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