Nos últimos dias, o Congresso tem passado por um rebuliço que pôs a nu as condições em que se dão a aprovação de emendas pelos deputados e seus partidos, com muito dinheiro, conchavos e intrigas.

Foi preciso o STF - Superior Tribunal Federal - entrar em campo para mediar o que se constitui numa apropriação de recursos públicos que migram de finalidades primordiais para, muitas vezes, irrigar campanhas, sobretudo em ano pré-eleitoral. Na verdade, isso não é novidade, a prática do Centrão governar através de exigências às quais governos se curvam para obter apoios, como no caso dessa PEC, é antiga. Mas sem um freio que não permita o repasse de recursos sem transparência, a prática já consagrada como um "costume" político, chega à casa dos bilhões sem que o cidadão saiba muito bem para onde são sugados esses recursos.

Na terça-feira (9), a PEC dos Precatórios foi aprovada em segundo turno por uma votação ligeiramente mais tranquila para o governo - o texto-base passou pelo Congresso por 323 votos a favor, 172 votos contrários e uma abstenção - o que não significa que seus atores tenham saído das cordas.

Logo após a votação, o presidente da Câmara, Athur Lira (PP-AL), dava entrevistas a emissoras de televisão com uma expressão ainda tensa, mas tentando parecer confortável diante de perguntas certeiras que continuam pondo em xeque a decisão do "toma lá, dá cá" ou do "tira aqui pra por ali."

Simultaneamente à votação no Congresso, o STF aprovava a decisão da ministra Rosa Weber de suspender os pagamentos das chamadas "emendas do relator". Por 8 votos a 2, os ministros do Supremo optaram pelo que pareceu mais ético: recursos não podem ser destinados a emendas sem transparência, mesmo porque só dentro de um princípio anticonstitucional isso poderia continuar acontecendo livremente, com as maiores autoridades jurídicas do País fazendo vista grossa.

Com isso, a queda de braços entre governo e Supremo está num limite visível de ações e tensões.

Para por mais lenha na fogueira, enquanto o presidente comemorava nesta quarta-feira a aprovação da PEC, que ainda deverá passar pelo Senado, o vice-presidente Hamilton Mourão declarava publicamente seu apoio à medida tomada pelo STF de suspender o pagamento das emendas do orçamento secreto.

Tudo indica que a conciliação de ideias dentro do próprio governo está difícil em meio ao tiroteio da PEC dos Precatórios. Tudo isso acontece com o prazo para as eleições de 2022 encurtando e a população tendo cada vez mais a impressão de que a política nacional entra definitivamente na maratona do "se correr o bicho pega se ficar o bicho come." Sendo que o principal "bicho" que não sabe para onde correr é mesmo o cidadão comum.

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