A Justiça Divina
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 28 de dezembro de 2022
Leonimer Flávio de Melo
Desde pequeno ouço falar que Deus é bom e justo. Deus é amor, me diziam, Ele quer o melhor para seus filhos! Fui crescendo com essa ideia de um Deus amoroso que ampara e protege seus filhos, um paizão que dá o que os filhos pedem. Até que um dia, na minha adolescência, passei a conviver com um amigo muito querido, que teve paralisia infantil e andava de cadeiras de rodas. Ele sempre foi uma pessoa fantástica, que a despeito de suas limitações físicas, se mantinha sorridente e simpático. Iniciou-se então meus questionamentos filosóficos: como pode um Deus bom e justo, permitir que se tornasse um paralítico? Com o passar dos anos, fui percebendo a realidade de muitas famílias, com crianças que nasciam com deformações teratológicas, hidrocefalia, mongolismo, etc., o que me fez desacreditar num Deus amoroso, pois, pensava eu, se Deus fosse bom mesmo, não permitiria que almas viessem ao mundo para sofrer e trazer sofrimento para família. Fui me tornando ateu!
Com mais idade, senti um vazio na alma e fui em busca de Deus, mesmo não acreditando em sua bondade e tampouco em sua justiça. Abracei a religião católica, dos meus pais, com ardor e convicção, trabalhando em pastorais, encontros e demais trabalhos voluntários. Estava feliz da vida, conheci pessoas fantásticas e padres maravilhosos, que eu amo até hoje. Até que um dia, o filho único de seis anos de idade, de um casal amigo muito querido, foi diagnosticado com câncer e após quinze dias de tratamentos, para o desespero dos pais, veio a falecer. Era um menino lindo, loirinho, olhos azuis, um sorriso amplo e simpático. Sempre que me via, se jogava no meu pescoço num abraço carinhoso. Os pais da criança entraram num estado de desespero, dor e sofrimento profundos. Passados alguns dias, nos encontramos com o padre de nossa paróquia em busca de consolo e explicação para o que aconteceu. Como pode padre? perguntavam os pais em choro convulsivo, por que Deus fez isso com a gente? Por que ele levou o nosso anjinho querido? Quantos anos estamos aqui na igreja, servindo a Deus quase todos os dias! Por que padre?? O que nós fizemos de errado? Por que Deus foi tão cruel conosco? O padre, mesmo sendo amoroso, procurando acolher da melhor forma o casal sofredor, também não tinha explicações para o fato, se limitando a responder que “era a vontade de Deus” e que Deus é bom e amoroso, mas tem “seus mistérios insondáveis”! Tenham fé meus filhos, se limitava a dizer.
Vivemos na era da razão, tudo tem que passar pelo crivo do nosso raciocínio lógico, caso contrário é rejeitado pela nossa mente. A partir desse episódio fui procurar a verdade. Não poderia conviver com um Deus cruel e injusto. Shakespeare me deu a dica: “Há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia”. Procurei e encontrei as respostas que tanto ansiava! “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará!” (João 8:32). A chave do enigma está na Lei de Reencarnação! Somos espíritos imortais, criados por Deus que é infinitamente bom mas também infinitamente justo! Encarnamos e reencarnamos inúmeras vezes, passando por experiências diversas, crescendo em inteligência e moralidade. Deus, na sua bondade, nos dá e dará quantas oportunidades necessitarmos para nossa evolução, onde, via de regra, aprendemos com nossos erros. “Porque tudo o que o homem semear, isso também colherá” (Gálatas 6:7). Agora ficou claro e cristalino, entendimento lógico que ressalta a magnanimidade do Criador! O mundo verdadeiro é o mundo espiritual e o corpo verdadeiro é o espiritual, que Allan Kardec chamou de perispírito. A vida na matéria é uma passagem rápida, um curso que devemos fazer para passarmos de ano! Para isso, tomamos um corpo que Deus nos concede, através de nossos pais. Se somos alunos aplicados, passaremos de ano com louvor, regressando para a pátria espiritual com a consciência tranquila do dever cumprido. Se somos alunos relapsos, rebeldes, viciosos, indisciplinados, retornamos para a casa no final do “ano letivo” endividados, tendo que recomeçar todo o ano novamente! Muitas vezes então, teremos que renascer com limitações físicas ou mentais para se cumprir a Lei de Justiça Divina, “O qual recompensará cada um segundo as suas obras” (Romanos 2:6), e que terão “Tribulação e angústia sobre toda a alma do homem que faz o mal” (Romanos 2:9). “Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil” (Mateus 5:26).
Leonimer Flávio de Melo - Professor da UEL

