Leio, nos jornalões (Folha de SP; Estadão; Globo) uma grita contra a decisão monocrática do Ministro Tóffoli que, atendendo pleito liminar da construtora Norberto Odebrecht, ordenou a suspensão (repito: a suspensão) do pagamento dos valores alusivos ao acordo de leniência outrora firmado com lastro nos elementos de convicção e fontes de decisão emanados da falecida operação Lava Jato.

A decisão do ministro veio ditada na sequência de uma outra decisão sua, que anulou os elementos colhidos a partir do acordo de leniência (da própria Odebrecht) e de seus sistemas usados para pagamentos de propina, Drousys e My Web Day.

Neste entorno, Tóffoli declarou, como decorrência lógica de seu entendimento, a imprestabilidade dos elementos derivados da leniência e dos sistemas já mencionados, em qualquer âmbito ou grau de jurisdição.

Com a ora ordenada suspensão de pagamento do acordo de leniência, o ministro protege sua decisão anterior, ao tempo em que traz luz e racionalidade às circunstâncias que envolvem o entorno do que a Lava Jato e a construtora baiana têm em comum, naquilo que põe um freio ao escárnio da construtora seguir pagando por um acordo de leniência para o qual convergira com suporte nos elementos colhidos pela Lava Jato e nulificados pela decisão do ministro.

Em síntese, o ministro conduziu a questão posta pela Odebrecht nos lindes do estado democrático de direito. Por que, então, há grita nas prensas dos Mesquita, dos Frias e dos Marinho?

Porque, para eles, o estado de direito, além de não ser democrático, não é senão um ersatz dos interesses da elite econômica do país, na composição supremacista de nosso atraso secular.

Ora dirão ouvir estrelas – e bobagens também.

Para estes, que se apegam tão somente aos próprios interesses, lembro que a Odebrecht, embora multimilionária, ao colidir com a demanda imperialista capitaneada pela Lava Jato, mais que depressa foi descartada pela imprensa familiar.

Neoliberalismo baby; neoliberalismo...

Historicamente, nossa imprensa familiar (Frias + Marinho + Civita + Mesquita) de brasileira nada tem, naquilo que a volatilidade de suas posições atende sempre o arrebatamento próprio, ditado pela paga de quem lucra com suas prensas de aluguel.

Neste contexto, conteúdo nacional não é senão, para as famílias quatrocentonas do nanquim, uma tolice de idealistas que, por não ter porvir ou eira e beira, poderia encaminhar o país a um regime comunista.

Quanta bobagem, ainda, passará sob a ponte do rio de nossa história?

Aqui, como em tantos outros lugares, reconheço a ausência de Paulo Freire e, mais que nunca, entendo seus detratores – afinal, pensar começa com conhecer e, conhecer, não é senão um dos amálgamas do saber.

Assim, um povo conhecedor de e da história, seria quase impossível de ludibriar com as gritas pontuais dos ignorantes de nossos dias.

Pauta antivacina? Terraplanismo? Machismo? Racismo? Fascismo? Células neonazistas? Misoginia? Não prosperariam se a população, além de saber ler, conhecesse história e tivesse noções básicas de sociologia.

Eis, pois, o contraponto ao levante fascista – conhecimento.

Neste entorno, seria muito mais produtivo e melhor serviria ao estado democrático se, antes de desancar as decisões de um ministro do Supremo, os jornalões almejassem alguma honestidade em suas manifestações.

Com leitores mais afeitos aos meandros da cultura, forjados nas questões e no conhecimento da história, seria quase impossível tanger uma massa de manobra com ênfase nesse proselitismo exangue que os jornalões propagam ao alvedrio da verdade e do compromisso com a racionalidade.

‘Nada será como antes, amanhã tudo bem’ – pega por aqui que, entre o antes e o amanhã se imiscui o hoje e, hoje, já não dá para criticar as decisões da Suprema corte apenas e tão somente porque elas nos desagradam.

Deveras, ignaros sempre estarão à disposição das prosopopeias dos jornalões, pródigos pelo e no descompromisso com a verdade, naquilo que há muito se desligaram da história – por pura ignorância.

Assim é que, entre o fato histórico e a verdade enviesada da imprensa familiar (Frias + Marinho + Civita + Mesquita) tupiniquim, se impõe o interesse econômico que conduz a prensa em sua colisão cotidiana com o conteúdo nacional.

A caterva elitista não é senão porta voz dos interesses próprios, desligada de qualquer valor empático e apartada do pensamento progressista, cuja pauta é inclusiva – afinal, se o peixe é pouco, o pirão da elite há de ser servido por primeiro.

Tristes trópicos. Saudade pai!

João dos Santos Gomes Filho, advogado