Depois de 25 anos de experiência, eu realmente acredito que a gestão pública depende muito mais de liderança do que o setor privado. Por que?

Vejamos: o setor privado precisa se adaptar constantemente ao mercado para sobreviver e outro motivo é que um chefe, mesmo sem o perfil de líder, pode ser relativamente eficiente naquilo que faz. E um dos motivos é que, no setor privado, além da pressão por resultados, um chefe tem dois instrumentos de gestão de pessoas: as possibilidades de demissão e de promoção, ou seja, a famosa dupla amor ou dor.

Sim, isso vai contra o tal do politicamente correto e dos discursos motivacionais. Mas no mundo real, em algumas situações, esses instrumentos acabam sendo úteis e, até certo ponto, funcionam bem por algum tempo. Mas no setor público, regra geral, não existe como aplicar essas duas ferramentas. Não se pode demitir um funcionário público por qualquer motivo. Na verdade, apesar de possível, é bem complicado e demorado o processo de demissão de um servidor estável. E quando isto acontece é devido a faltas muito graves e não a produtividade.

E também não se pode conceder, para um único servidor, algum tipo de aumento de remuneração como um tipo de premiação. Em geral, não existem sistemas eficientes de meritocracia em instituições públicas. E isso é um fator que desmotiva quem se propõe a assumir cargos, projetos ou riscos.

Então, na prática, para que novos projetos possam realmente funcionar no setor público, a liderança faz toda a diferença. O setor público precisa melhorar sua forma de gestão, como também atender novas demandas da sociedade. Precisa urgentemente se modernizar e, principalmente, se tornar mais eficaz.

São inúmeros os exemplos de atividades públicas que podem ser melhoradas ou que precisam ter o seu custo operacional reduzido. Afinal, tudo é pago pela sociedade através dos impostos. E reduzindo o custo operacional sobraria mais dinheiro para chegar a quem realmente precisa. Ou seja, a gestão pública precisa muito se aperfeiçoar e para isso precisa ter lideranças técnicas e legítimas, que possam realmente quebrar paradigmas, motivar e conduzir a equipe, vencer os grandes obstáculos da burocracia e o enorme labirinto legal.

Mas a liderança no setor público, em geral, não proporciona nenhum tipo significativo de recompensa, muito pelo contrário, pode é gerar um enorme risco jurídico e pessoal. Gestores públicos não têm o mesmo nível de remuneração dos executivos do setor privado, mesmo gerenciando grandes orçamentos ou grandes projetos. Outros complicadores são a legislação complexa e engessada, as divergências nas prioridades, a cultura do imediatismo e a exposição pública.

Ou seja, um gestor público tem como ferramenta de motivação somente o seu entusiasmo e convencimento e, apesar dos grandes riscos e desgaste que se expõe, não tem nenhuma contrapartida significativa.

A liderança no setor público, apesar de todas as suas dificuldades, tem um diferencial: a oportunidade de realmente fazer a diferença
A liderança no setor público, apesar de todas as suas dificuldades, tem um diferencial: a oportunidade de realmente fazer a diferença | Foto: iStock

Mas a liderança no setor público, apesar de todas as suas dificuldades, tem um diferencial: a oportunidade de realmente fazer a diferença. No setor privado, por mais que se tente criar uma imagem diferente, o que interessa mesmo é o resultado financeiro. Ou seja, o lucro. Já no setor público, existe a possibilidade de se implementar projetos e soluções que podem ajudar de fato toda a sociedade a se tornar um pouco mais justa.

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Um gestor eficaz pode simplificar processos, criar incentivos inteligentes e ajudar no desenvolvimento econômico. Uma liderança que utiliza os recursos da saúde, da educação ou da assistência social, com mais eficiência e eficácia, modernizando e aprimorando as políticas públicas, gera o desenvolvimento de toda sociedade, e pode realmente fazer a diferença na vida das pessoas, principalmente daquelas que mais precisam. Mas o grande desafio é encontrar, desenvolver e motivar esses líderes.

Denilson Vieira Novaes é servidor público, formado em Engenharia, atuou em diversos cargos de gestão no setor público

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