A figura do Papa
Leão XIV começou bem! Sem nenhuma demagogia, apresenta-se no estilo “gente como a gente”
PUBLICAÇÃO
sábado, 17 de maio de 2025
Leão XIV começou bem! Sem nenhuma demagogia, apresenta-se no estilo “gente como a gente”
Padre Manuel Joaquim R. dos Santos
Desde o dia 8 de maio que “habemus papam”! Leão XIV comanda agora os destinos da Igreja Católica. Sobre ele eu já escrevi na vez passada. Um americano que viveu um bom tempo no Peru e que teve uma carreira “meteórica”, de bispo a cardeal e de cardeal a Sumo Pontífice! Pesam sobre os seus ombros expectativas de continuidade do papado de Francisco, que nos presenteou com doze anos de proximidade, humildade e humanismo. Ninguém tem dúvidas que será uma tarefa hercúlea.
O funeral do papa argentino e o interesse pela eleição de um novo papa revelou ao mundo como a figura do bispo de Roma tem impacto na sociedade, muito além das fronteiras da religião que preside. Ora, sabemos que esse “homem de branco” é destituído de qualquer poder político ou bélico e está enclausurado num enclave murado dentro da cidade de Roma. Com aproximadamente 44 hectares (0,44 km²) e com uma população estimada de 1.000 habitantes, é, poderíamos dizer, o menor país do mundo!
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O papa, na verdade, é “apenas” o líder espiritual de cerca de um bilhão e meio de crentes católicos. Já foi, porém, o monarca absoluto dos chamados Estados Pontifícios desde 756 a 1870, que anteriormente abrangiam a região central da Itália. A maior parte desse território foi absorvida pelo Reino de Itália em 1860 e a porção final, ou seja, a cidade de Roma, com uma pequena área perto dela, dez anos depois, em 1870. O papa ficou “nu” no final do século XIX! Os católicos dirão em uníssono que foi a maior bênção que poderiam receber! Eu, pessoalmente, não tenho dúvidas!
É, portanto, de índole moral, a influência do papa na humanidade. Isso não o diminui em nada! Bem pelo contrário! A elevada estatura do chefe dos católicos lhe advém dos posicionamentos que, embora em muitas ocasiões remem contra a maré cultural, procuram afirmar valores imutáveis e, porque não, inegociáveis! Podemos discordar do papa (não é “pecado!), mas isso não lhe rouba a carga significativa com que ele se impõe nos debates hodiernos. É uma voz com autoridade pela sua coerência e interpelativa perante as incongruências de certas agendas mundanas.
É o que observamos no momento, quando o assunto é “uma terceira guerra em fragmentos”, como dizia Francisco, ou em relação ao desenvolvimento da Inteligência Artificial. Aliás, já surge o pedido a Leão XIV que à imagem do que fez seu antecessor (Leão XIII) com a encíclica Rerum Novarum acerca dos direitos trabalhistas e dignidade do trabalho, o faça agora delineando uma epistemologia sobre a IA. Nada mais necessário e oportuno!
O papa não é o tutor da humanidade! É, sim, o líder dos católicos e é para eles que ele governa, através de documentos, chamados de “magistério”. As encíclicas são as mais conhecidas. Mas não os únicos! Porém, como qualquer líder religioso, tem o direito de abordar as várias dimensões da vida humana e dos povos e interpela-los, quando determinadas opções conspiram contra eles mesmos, contra a dignidade do ser humano enquanto tal, ou contra a vida na sua essência.
Francisco soube melhor do que ninguém conciliar estas questões com a ecologia e enriqueceu a portfólio do papado com uma nova e urgente dimensão. Hoje, ninguém de bom senso nega que a questão ambiental e climática deva estar inserida nas principais preocupações do homem.
Leão XIV começou bem! Sem nenhuma demagogia, apresenta-se no estilo “gente como a gente”, o que inevitavelmente o aproxima do anterior! O papado do século XXI resgata a verdadeira índole do bispo de Roma: o pastor, o tocável, o homem de branco que conhece as angústias, as alegrias do ser humano e vivencia a saga da humanidade. Depois de Bergoglio é impensável outro “modelo” de papa que assim não seja! Com esta performance carismática, ele refletirá a imagem de quem representa e reforçará a sua autoridade no mundo.
Padre Manuel Joaquim R. dos Santos, Arquidiocese de Londrina
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