Nos últimos meses, escândalos envolveram várias lideranças religiosas no País. Ainda está viva na memória a imensa decepção e indignação nacional pela conduta do médium João de Deus que, durante décadas, foi visto como uma pessoa “do bem” à frente de um centro espírita em Abadiânia (GO), onde ele atendia anualmente milhares de pessoas em busca de serviços de cura. O escândalo, envolvendo denúncias de abuso sexual de mulheres que buscavam sua ajuda espiritual para tratar de doenças graves, colocou por terra a confiança de quem acompanhava seu trabalho.

Esta semana, outro escândalo envolvendo uma liderança religiosa, voltou a abalar a confiança de evangélicos e pessoas de outras religiões. A pastora e deputada pelo PSD-RJ Flordelis foi acusada de ter mandado matar o marido, o pastor Anderson do Carmo, morto a tiros em junho de 2019. A esposa dedicada, que se atirou em prantos sobre o caixão do marido durante o velório, foi acusada do crime depois de longa investigação da Polícia Federal e do Ministério Público. Dos 55 filhos adotivos da pastora, que tinha fama de caridosa, cinco foram presos por envolvimento no crime.

Outro escândalo fenomenal envolve no momento o Padre Robson, de Trindade (GO), investigado por suspeita do desvio de bilhões de reais de doações feitas pelos fiéis. Consta que ele estaria sendo extorquido por um hacker que o ameaçava de denunciar casos amorosos, o padre nega tudo.

A tríade de escândalos sucessivos tem incendiado as redes sociais, com acusações de evangélicos contra católicos, católicos contra espíritas e assim sucessivamente.

Mas em que medida esses escândalos provocam a total desconfiança não só sobre as lideranças, mas sobre as religiões que elas representam? O caso é complexo, mas em meio ao tiroteio, sobretudo nas redes, vozes conciliadoras têm feito um apelo para que as religiões não passem a ser vistas e medidas pela conduta de alguns religiosos. De modo geral, trata-se de não tomar o todo pela parte ou de não julgar as instituições por alguns de seus representantes.

É fato que as religiões sempre foram alvo de maus sacerdotes. O próprio Cristo expulsou os chamados “vendilhões do templo”, acusando-os de explorar a boa fé e transformar o local num covil de ladrões que abusavam da confiança do povo por dinheiro.

No momento, não tomar a má conduta individual como praxe das religiões é uma oportunidade também de enxergar que o fanatismo que grassa por diferentes segmentos - da religião à política - é o principal veículo de engôdos, se não seu combustível.

Toda comunidade que deixa de exercitar o senso crítico, seja em igrejas, partidos ou instituições , está sujeita ao engano, à manipulação, à falcatrua que os mitos religiosos ou políticos utilizam com facilidade e cheios de “bons propósitos.”

A luz da justiça deve clarear esses meandros do equívoco pela fé que tem se repetido em nosso país. Que no lugar do linchamento virtual dessa ou daquela religião surja a compreensão de que o fanatismo cega, a ponto de lobos se esconderem em pele de cordeiro e a exploração contar com o manto das virtudes. A lição que fica é que é melhor honrar a justiça do humanismo do que a falsidade da santificação.

Obrigado por ler a FOLHA!