Se o Brasil pretende ser um grande país de ponta no cenário mundial deve investir mais e melhor na formação de engenheiros. Isso é o que qualquer especialista em desenvolvimento econômico apontaria.

O Brasil tem muita carência de engenheiros, sobretudo porque os jovens querem ganhar dinheiro rápido, e a engenharia não oferece isso. A engenharia não atrai mais as pessoas como antes. Não é uma carreira de ascensão rápida e o salário inicial não é alto. Hoje em dia os jovens preferem procurar os cursos de medicina, direito ou comunicação social, como aponta a grande concorrência nos vestibulares.

Há um deficit em torno de 100 mil profissionais de engenharia no Brasil. Embora o houvesse um crescimento recente na construção civil brasileira a formação não acompanhou esse processo. Pela lógica da oferta e da procura, isso deveria aumentar os salários dos engenheiros, mas isso não acontece. E isso é resultado da desvalorização da profissão.

No Brasil, há advogados e economistas de sobra, mas faltam engenheiros. Se há uma profissão que é fundamental para o desenvolvimento, tanto no setor privado quanto no governo, é a engenharia. Nos setores que o mercado não tem capacidade de coordenar são necessários planos de investimento e, em seguida, engenheiros que formulem os projetos de investimento e depois se encarreguem da gestão da execução.

Mas isto foi esquecido no Brasil. Nos anos neoliberais do capitalismo não havia necessidade de engenheiros. Contava-se que os investimentos acontecessem por obra e graça do mercado. Bastava privatizar tudo, e aguardar.

Em 2012, em artigo na "Folha de São Paulo" "Onde estão nossos engenheiros?" O economista Luiz Carlos Bresser Pereira afirmava: "A crise da engenharia brasileira começou na grande crise financeira da dívida externa dos anos 1980. No início dos anos 1990, no governo Collor, o desmonte do setor de engenharia do Estado acelerou-se. Dizia-se, então, que estava havendo o desmonte de todo o governo federal, mas não foi bem assim. Há quatro setores no governo: jurídico, econômico, social e de engenharia. Ninguém tem força para desmontar os dois primeiros; seria possível desmontar o setor social, mas, com a transição democrática e a Constituição de 1988, ele passara a ser prioritário. Restava o setor de engenharia - foi esse o setor que se desmontou enquanto se privatizavam as empresas".

Reflexo da falta de engenheiros no Brasil é a importação de profissionais de fora por parte de grandes empresas. Nos últimos anos viu-se uma verdadeira invasão de profissionais europeus, americanos e até da China.

Outro grande fator de desvalorização dos engenheiros é o fato de que há uma distância entre universidades e indústria no Brasil. Falta gente com formação na indústria para dialogar com a universidade. Há poucos doutores trabalhando em empresas. Em Cingapura e na China, é comum haver centros de pesquisas de empresas próximos a universidades. Infelizmente, no Brasil, na carreira acadêmica, conta mais quantos artigos se publica do que produção prática.

Há poucos profissionais com formação avançada na indústria porque a indústria não valoriza tanto o conhecimento, embora ela precise investir em pesquisa e criar novas tecnologias. As empresas preferem comprar a tecnologia pronta e ganhar dinheiro com a oferta do serviço. Acham o custo da pesquisa muito alto, pois querem retorno em curto prazo. Não há planejamento em longo prazo, mas a crescente competitividade global mudará isso, ou então as empresas pagarão caro.

O problema deveria ser uma das grandes pautas nacionais para discussão. As universidades e empresas deveriam criar cartilhas e seminários para mostrar que a engenharia é uma profissão fundamental para nossa qualidade de vida. Que está presente em tudo, desde itens básicos, como uma geladeira, até áreas sofisticadas, como a telemedicina. Deveriam mostrar que trabalhar com engenharia é uma grande missão social. O governo deveria se empenhar muito mais nisso.

WILSON FRANCISCO MOREIRA é sociólogo e agente penitenciário em Londrina