Afigura-se estranho que um professor universitário, invariavelmente voltado para o ensino e a pesquisa na área tecnológica, aborde um tema alheio ao seu campo de atuação. No entanto, esta aparente intromissão é justificável por alguns fatos relevantes que, sem dúvida, vale a pena relembrar.
Alguns dias após o término das eleições para a Reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR), já proclamado o resultado das urnas, recebi um recado do então ministro da Educação, Marco Maciel, para um encontro cuja principal finalidade seria uma troca de idéias sobre a universidade. Considerando os vários compromissos do ministro, em Santa Catarina, na oportunidade, a reunião foi marcada para Blumenau.
De maneira resumida, fiz uma exposição a propósito de minhas idéias e convicções sobre ensino, pesquisa e extensão e do papel que a universidade pública e gratuita representa para a comunidade.
Num dado momento de sua interlocução, Maciel salientou o fundamental dever da instituição no preparo dos diversificados quadros dirigentes da Nação. Não sei se casual ou propositadamente, surgiu o assunto referente à formação de educadores qualificados para a educação especial ou, lembrando melhor, para aquilo que este ilustre político e homem público, naquela ocasião, denominou de ‘‘resgate da educação especial’’.
Jamais esqueci, e espero nunca esquecer, a frase que o atual vice-presidente da República proferiu naquele encontro: ‘‘A política da educação especial é a carta de direito da personalidade diferenciada da criança brasileira.’’ Tomei nota destas palavras na minha agenda e, acredito, elas refletem fielmente o que foi dito na época. De qualquer maneira, no exercício da reitoria, procurei incentivar e encorajar o aprimoramento de pessoas voltadas para esse importante aspecto educacional.
Não tenho vergonha de confessar que, antes do meu encontro com Maciel, a minha concepção de educação especial era vaga e imprecisa e começou a mudar radicalmente dessa reunião em diante.
A sedimentação da necessidade deste tipo de educação deu-se, de modo conclusivo, quando era secretário de Estado da Educação o pastor Elias Abrahão, com o qual mantive diversos contatos tanto na Secretaria de Educação quanto na Reitoria da UFPR.
A visão do professor Elias sobre o assunto era ampla, abrangente e sobretudo humanística pois, na sua expressão, ‘‘as diferenças entre seres humanos estão longe de configurarem uma fatalidade, de tal sorte que, cada pessoa, uma vez convenientemente orientada, pode atingir o benefício divino da sua realização pessoal’’.
Quando do meu relacionamento com o setor responsável pela educação especial, na qualidade de reitor, aprendi que entre 10 e 12% de nossa população poderia ser incluída no padrão de excepcionalidade e que grande parte desse percentual é efetivamente carente.
Isto posto, na condição de ex-reitor, tendo procurado contribuir com o meu quinhão para com esta importante faceta social da nossa educação, parece-me lícito indagar qual a real situação da educação especial no Estado do Paraná?
Creio que a resposta possa ser dirigida não apenas ao conjunto da sociedade mas, particularmente, a todos os carentes que positivamente necessitam dos inegáveis benefícios desse imprescindível ramo de nossa estrutura educacional.
- RIAD SALAMUNI é ex-reitor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) em Curitiba