Os professores enfrentam dificuldades para lidar com a aprendizagem das novas gerações, e este cenário reduz a perspectiva de ascensão social por meio da educação, levando jovens a priorizarem o trabalho, ao invés de estudarem, principalmente em áreas de maior vulnerabilidade.

A realidade é que nas escolas estão crianças que os pais delegam à escola a tarefa de educar. E o professor, além disso, precisa desenvolver princípios básicos de respeito e civilidade. Tudo dentro de um ambiente em que o aluno, sem as habilidades necessárias para conviver com seus colegas, se submetem a um comportamento que favoreça sua aprendizagem.

O resultado é um modelo ineficiente, que respinga em temas espinhosos, como a inclusão. Há avanços na inserção de pessoas com necessidades especiais, mas é um desafio garantir-lhes os direitos de aprendizagem, muitas vezes por falhas na formação dos profissionais, como aprender técnicas e estratégias de ensino eficazes para os diversos casos.

O sucateamento leva estes profissionais a buscarem carreiras mais atraentes e com qualidade de vida. Pesquisa da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE- 2017) diz que 71% dos professores já foram afastados por problemas psicológicos, vindos das condições de trabalho. Violência física e verbal, falta de estrutura, ausência de apoio e recursos são exemplos.

Cingapura e Finlândia apontam um caminho: Estado e universidades assumem a responsabilidade pela formação continuada dos professores, além de transformar o trabalho em uma atividade recompensadora e que dá status. É possível seguir carreira e pleitear cargos de direção, pesquisa ou especialista em sala de aula. A Coreia do Sul tornou-se uma das grandes potencias globais em inovação e tecnologia, investindo em educação e na valorização do profissional.

Sabemos que são realidades distintas da nossa: são países menores, com melhor infraestrutura e situações econômicas e sociais, e que o investimento em educação contribuiu para isso. Já aqui, somos um país com dimensões continentais, diverso culturalmente e com uma das maiores crises econômicas da história, que parece não ter a educação como prioridade.

Apesar da diversidade, um traço é comum a grande parte dos brasileiros: a educação não é um valor por si só, e é relevante apenas quando oferece possibilidades de ascensão social, algo mais difícil atualmente. Basta às escolas terem vagas, em detrimento da qualidade do profissional, que precisa trabalhar em vários turnos para sobreviver, sem tempo para descanso, estudo e pesquisa. Não sendo prioridade, a educação ocupa papel secundário na agenda dos governantes e assim não avançamos.

Em 2020, as escolas implementarão currículos com as competências da nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Os professores se voltarão à aquisição de diversas habilidades, como ajudar os estudantes a desenvolver seu lado socioemocional, a criatividade e a autonomia. Pode ser a receita para um futuro diferente.

Entidades e órgãos públicos tem ações importantes para melhorar os resultados com os alunos, mas precisam constar em políticas públicas para direcionar a formação e capacitação dos profissionais de educação. Sabemos que esse é o caminho: precisamos é segui-lo.

THIAGO ZOLA, coordenador pedagógico da Mind Lab, formado em Letras e História, e especialista em psicologia da educação