Em 2014, o Brasil viveu uma das maiores crises hídricas da história recente, com reservatórios do Sul e Sudeste dando sinais visíveis das condições graves de seca que afetaram, sobretudo, o abastecimento de água. Naquele ano, São Paulo viveu um pesadelo que remetia ao mundo desolado dos filmes de ficção científica. Exageros à parte, sem água não há a menor condição de vida na Terra. Viagens espaciais mostram planetas inóspitos como Marte ou satélites, como a Lua, nos quais a seca prevalece como condição adversa à vida.

Dezessete anos depois que São Paulo viveu uma de suas piores crises de abastecimento, com o sistema Cantareira chegamento a 5% de armazenamento de água, incluindo a reserva técnica, uma nova crise hídrica põe os governos de plantão, incluindo o governo federal que já está lançando mão das termelétricas - com um custo de energia bem mais caro - para tentar driblar a seca.

Aqui mesmo, no Paraná, tivemos esta semana as imagens preocupantes das Cataratas do Iguaçu exibindo fios d'água onde existiam portentosas cachoeiras. A estiagem visível no Sul, Sudeste e Centro-Oeste mostra que pouco aprendemos desde a última crise hídrica, quando já se alertava sobre o desmatamento acelerado, a falta de proteção das nascentes, a escassez de matas ciliares que, em resumo, formam a condição necessária à preservação das reservas de água doce.

A crise hídrica já está batendo no ponto mais sensível do consumidor: o bolso. Em maio, a bandeira tarifária de energia passou de amarela para vermelha 1 e a conta residencial subiu 5,37%, acima da inflação, que ficou em menos de 1%, representando o maior índice para um mês de maio em 25 anos. Em junho, a conta subiu mais: foi para a bandeira vermelha 2.

Sabe-se que a energia tem um impacto direto nas contas e custos de produção. Por isso, a alta de preços será visível nas compras de supermercado e também em serviços triviais como os salões de beleza.

Não à toa, o governo federal já começou a fazer apelos para que os preços não subam. Mas uma melhor compreensão sobre os resultados dos desmatamentos, a escassez de chuvas e a noção de que os recursos naturais não são infinitos seria muito mais produtivo.

Aguardamos para os próximos meses as consequências que já estão atingindo desde o agronegócio até o corte de cabelo. Para se ter uma ideia, a Conab, Companhia Nacional de Abastecimento, reviu a previsão de março e agora espera colher 12 milhões de toneladas de milho a menos do que o esperado em 2021. O milho é muito usado em rações e uma alta tem impacto nos preços da carne e do frango. Isso só um exemplo do que uma crise hídrica de grandes proporções pode representar. O que vai muito além do jogo bruto de desrespeitar, permanentemente, o meio ambiente, achando que isso é conversa de ambientalistas românticos.

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