A 2ª Guerra Fria: conflito invisível que redesenha o mundo
Os efeitos dessa guerra silenciosa já se fazem sentir
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 03 de março de 2025
Os efeitos dessa guerra silenciosa já se fazem sentir
Gustavo Henrique Ramos Salesse
Em tempos idos, as nações se enfrentavam em campos de batalha, onde o estrondo dos canhões e o clamor dos soldados compunham a sinfonia do embate. Hoje, em 2025, as armas foram silenciadas, mas a guerra persiste—não mais nas trincheiras, mas nas salas de negociações, nas bolsas de valores e nos gabinetes de estrategistas econômicos. Vivemos a Segunda Guerra Fria, um conflito sem sangue, mas igualmente devastador, onde tarifas substituem mísseis, sanções tomam o lugar de cercos e embargos são as novas fortificações.
O mundo assiste, perplexo, à escalada das tensões. Com Donald Trump novamente no poder, os Estados Unidos ergueram barreiras comerciais sob o pretexto da segurança nacional. Tarifas de 25% sobre importações vindas do Canadá, México e China acenderam o estopim de um conflito econômico global. Em resposta, essas nações contra-atacaram com suas próprias restrições, dando início a um ciclo vicioso de protecionismo, retaliação e desconfiança. O livre comércio, antes exaltado como pilar da prosperidade global, agora se vê ameaçado pela busca de soberania econômica a qualquer custo.
Os efeitos dessa guerra silenciosa já se fazem sentir. Cadeias globais de suprimentos estão desorganizadas, afetando desde o agricultor que não consegue exportar sua produção até o consumidor que se depara com preços exorbitantes nas prateleiras. A incerteza tomou conta dos mercados financeiros, tornando-se uma sombra persistente sobre a economia mundial. Grandes indústrias, que antes prosperavam na interdependência, agora enfrentam desafios logísticos e diplomáticos que ameaçam sua estabilidade.
Mais preocupante ainda é o impacto dessa guerra sobre as relações entre as nações. A diplomacia, que outrora servia como ponte entre culturas e economias, está cada vez mais enfraquecida. No lugar do diálogo, surgem discursos inflamados; no lugar da cooperação, cresce a desconfiança. O mundo, ao invés de se unir para enfrentar desafios coletivos como mudanças climáticas, pandemias e crises humanitárias, se fragmenta em blocos rivais, cada um buscando sua própria sobrevivência em detrimento do todo.
A história nos ensina que o isolamento e a rivalidade econômica levam ao empobrecimento mútuo. A Primeira Guerra Fria, que dividiu o mundo em dois blocos ideológicos por décadas, mostrou como a competição desenfreada pode nos conduzir a uma era de medo e estagnação. Será que estamos condenados a repetir os mesmos erros?
Ainda há tempo para reverter esse curso. O verdadeiro progresso não reside no isolamento, mas na colaboração. Nenhuma nação, por mais poderosa que seja, pode prosperar sozinha em um mundo interconectado. Se há algo que essa Segunda Guerra Fria nos ensina, é que a maior ameaça ao nosso futuro não é a ascensão ou queda de uma potência, mas a incapacidade de reconhecer que, em um mundo globalizado, a vitória de um não deve ser a derrota de outro.
Que possamos, portanto, buscar caminhos de entendimento antes que as barreiras comerciais se tornem barreiras intransponíveis entre os povos. Que possamos redescobrir a força do diálogo antes que os interesses econômicos se sobreponham ao bem comum. Que possamos, enfim, aprender com o passado, para que o futuro não seja apenas um reflexo ampliado dos erros que já cometemos.
Gustavo Henrique Ramos Salesse (professor) - Valparaíso (SP)

