Imagem ilustrativa da imagem 3/10 CARTAS - Escravos modernos
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Morri! Sim, morri subitamente e cheguei num lugar todo iluminado cheio de pessoas. Um senhor veio ao meu encontro e com uma voz suave me recebeu:

- Seja bem-vindo, meu filho.

- Pelo visto estou no céu - respondi aliviado.

- Não, meu filho, você está no reino dos escravos – respondeu o senhor apontado para outras pessoas espalhadas pelo local.

- Reino dos escravos? Como assim?

- Esse é o local onde as pessoas que foram escravas durante a passagem terrena ficam até se libertarem.

- Quer dizer que todas as pessoas que aqui estão ficavam presas e eram obrigadas a trabalhar sem receber?

- Não, meu filho. Essa é apenas uma das formas da escravidão. Existem várias outras. Está vendo aquele senhor com roupas opulentas, ele era um escravo do dinheiro. Trocou a vida pela busca incessante da riqueza. Seus ganhos nunca eram suficientes e todo o seu tempo na terra foi tomado por essa escravidão. Não conseguiu aproveitar em vida o dinheiro que ganhou e agora os herdeiros estão brigando pela partilha.

- Isso é uma escravidão?

- Sim! Uma delas.

- Aquela senhora no canto é outro exemplo, passava todo o tempo buscando atender um padrão de beleza com tratamentos, cirurgias e exercícios. Nunca estava satisfeita e se tornou uma escrava da beleza. Até a saúde dela foi prejudicada e acabou morrendo em uma das cirurgias estéticas que fez.

- Aquele homem de terno escuro também era escravo do dinheiro?

- Não, muito pior. Ele era escravo do poder. Para assumir cargos políticos acabou vendendo a própria alma. Aceitou propina para

ganhar a eleição e ficou na mão de empresários corruptos. Entrou em um ciclo vicioso em que se manter no poder era a única saída. Foi

usado como um instrumento da corrupção e depois descartado.

- Só não entendo uma coisa, eu não me enquadro em nenhuma dessas formas de escravidão. Trabalhei a vida inteira e não prejudiquei

ninguém. Por que estou aqui?

- Calma, meu filho. Existem muitas outras formas de escravidão no mundo moderno. Todo excesso que se tornar um vício: sexo, jogos,

drogas, até mesmo o trabalho pode ser uma escravidão quando a pessoa prioriza seus afazeres e esquece da família. Muitas crianças

sentem falta do afeto dos pais que são workaholic (viciados em trabalho) e acabam negligenciadas. Mas esse não é o teu caso.

- Mas em qual dessas formas de escravidão eu me "viciei"?

- Você era um escravo digital. Relegou sua família e amigos para ficar por horas no computador e celular. Quantas vezes seus filhos pediram atenção e você estava ocupado no Facebook e Instagram vendo a vida que os outros publicavam, mas, na realidade, não tinham. Ou, ainda pior, ficava postando fotos de uma felicidade fake apenas pela ânsia de receber a aprovação de outras pessoas através de curtidas. Enquanto isso a felicidade real de receber o toque de um filho através de um abraço era trocada pelo touch de um celular. Imerso em um mundo digital e desligado do mundo real.

Nesse momento, eu notei que fui um escravo.

E você? Também é?

André Trindade (professor) - Londrina

Brasil não precisa de horário de verão

Inadmissível continuarem discutindo o retorno do desnecessário e desagradável horário de verão. Diversas pesquisas comprovam que a maioria da população desaprova o horário de verão, enquanto estudos demonstram que essa medida é ineficiente para economizar energia elétrica, porquanto o uso de ar condicionado tornou-se o grande vilão do consumo e o advento das lâmpadas led e painéis solares para o aquecimento da água, invalidaram a justificativa que a maior duração do dia serviria para economizar energia elétrica. Segundo especialistas em eletricidade, o horário de verão não funciona em país do hemisfério sul, pois as variações de radiação solar são menos acentuadas. É injusto pagarmos uma das tarifas mais caras do planeta, recebermos um péssimo serviço e termos que conviver com essa aberração típica de um país subdesenvolvido que apenas esgota o trabalhador, diminuindo a capacidade produtiva e gerando prejuízos a todos.

Daniel Marques (historiador) - Virginópolis (MG)