Que o brasileiro é explorado todos os dias pela maior carga de impostos do mundo, já não assusta. A expectativa das pessoas, agora, é que ''pelo menos esse dinheiro não seja todo roubado''. Roubado, desperdiçado, distribuído injustamente. Aposentadorias indevidas e corrupção, com certeza, são roubos; mordomias idem.
Ah, gastos em busca de notoriedade são roubos. Este é o conceito da população.
A reportagem da jornalista Andréa Bertoldi, ontem, no caderno de Economia, mostra que a carga tributária consome 2,6 mil horas por ano de cada cidadão. Não são apenas as empresas que pagam; são trabalhadores. Empresas repassam. Trabalhadores pagam para ter a pior assistência médica, uma educação de mentira. Mas isso parece não incomodar professores e pais de alunos (eles não brigam pela causa).
A frase da enfermeira Elizabeth Wistuba, que aparece na enquete da FOLHA, ontem, é um misto de pavor e conformismo. Diz ela: ''Eu não me importaria de pagar tanto imposto se tivesse bons serviços de saúde, transporte, educação e segurança''.
Aos apelos do povo - que aceita ser esbulhado, apenas pede menos voracidade - pode-se acrescentar algo mais: que os notáveis pelo menos trabalhem. Que os membros dos poderes constituídos saiam da zona de conforto, mexam-se. Conhece alguém dos envolvidos do Mensalão do PT ou do DEM que tenha sido punido pela Justiça?
O Brasil ocupa o topo da lista dos países onde se gasta mais horas de trabalho para pagar tributos. O governo suga quase o dobro do segundo colocado, Camarãoes (1,4 mil horas).
Pergunta: que cálculos levaram ao número de horas trabalhadas para o governo? O critério é do Instituto de Planejamento Tributário (IBPT), que também aponta 147 dias. O Banco Mundial aponta 108 dias. Alguns técnicos em tributação preferem dizer que o brasileiro trabalha, todos os anos, até o dia 27 de maio para pagar impostos.