Sem limites para a persistência
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 27 de dezembro de 2017
Luiz Guilherme Bannwart<br>Especial para a FOLHA

A máxima que diz que "quando se tem persistência e força de vontade os obstáculos ficam menores" é uma recorrente na vida da jovem Natália Angelina Ranuci. Desde que nasceu, a menina convive com as barreiras que a surdez impôs à sua vida. Hoje, com 28 anos, e ainda tentando transpor os velhos muros que a cercam desde a infância, a deficiente auditiva percebeu que a fotografia poderia ser uma chance para ocupar seu espaço na sociedade. Mais que uma chance de inclusão, a menina de Santa Amélia, pequena cidade do Norte Pioneiro, percebeu que o clique para captar a imagem também seria uma boa oportunidade para exercitar sua sensibilidade e cidadania.
Desde novembro ela estuda em uma escola profissionalizante em Santo Antônio da Platina, a pouco mais de 60 quilômetros da sua cidade, onde aperfeiçoa as técnicas de fotografia em aulas práticas e teóricas. O convívio com os colegas de curso, as instruções do professor e a companhia da mãe, a dona de casa Elizabeth Teixeira Ranuci, que não só a leva para as aulas, mas também faz o mesmo curso, despertaram na jovem o sonho de deixar a fotografia como hobby e encará-la como profissão. Desde garotinha gostava de fotografar a família com sua pequena máquina Kodak e os velhos filmes de 36 poses.
Em seu relato sobre a dificuldade de inclusão vivenciada diariamente pelas pessoas portadoras de deficiência, Ranuci considera que numa cidade pequena essas dificuldades se multiplicam. Chegar ao mercado de trabalho, na maioria das vezes, é uma tarefa inglória. Mesmo assim, ela não desanimou. Foi de caixa de açougue a balconista de panificadora. Mas o mercado de trabalho é cruel e ela não se manteve empregada por muito tempo. "Foi então que ela percebeu que a fotografia poderia ajudá-la na sua inclusão. Melhor que isso, ela poderia até montar o seu negócio e trabalhar por conta", explica a mãe cheia de orgulho.
O professor do curso, o fotógrafo profissional Edilson Maciel, conta que como tem uma deficiência, Natália compensa a dificuldade de entender as palavras com muita sensibilidade, qualidade indispensável para um bom fotógrafo. Além disso, explica o professor, a aspirante é dedicada, atenta e muito inteligente. "No começo fiquei em dúvida se conseguiria deixá-la segura e à vontade, pois era um desafio para mim. Mas quem me deu tranquilidade foi ela, mostrando toda sua capacidade e força de vontade. Essa garota é um exemplo para todos", elogia o professor.

