Em Jundiaí do Sul, água utilizada na pia da cozinha e do tanque é despejada na rua e corre pelas ruas com restos de alimentos
Em Jundiaí do Sul, água utilizada na pia da cozinha e do tanque é despejada na rua e corre pelas ruas com restos de alimentos | Foto: Ricardo Chicarelli


Jundiaí do Sul – Um instrumento que mostra civilização e progresso não é a tecnologia de ponta, mas um item básico: saneamento. Em quatro municípios do Norte Pioneiro - Jaboti, Japira, Jundiaí do Sul e São José da Boa Vista - coleta e tratamento de esgoto são inexistentes.

Em Jundiaí do Sul, a água utilizada na pia da cozinha e do tanque é despejada na rua, levando às "línguas negras", como chamam os moradores. A água turva fica exposta à intempérie e corre pelas ruas com restos de alimentos.

A cidade é pequena, com pouco mais de 3 mil habitantes. "Jundiaí parece um queijo suíço, cheia de furo por causa das fossas, que contaminam o lençol freático", afirma o morador Edson Luiz Correa, 56.

Embora o Paraná seja referência em cobertura sanitária, como mostrou o Instituto Trata Brasil - em último estudo referente ao saneamento básico do País - ver a sujeira sumir nas entranhas dos esgotos é um luxo que os munícipes dessas quatro cidades não possuem. "Estou correndo atrás disso [rede de esgoto] para resolver o mais rápido possível", garante o prefeito de Jundiaí do Sul, Eclair Rauen (DEM). "Gostaria de deixar isso como legado para a população, que não tem um metro de esgoto hoje. Poluímos o ambiente com fossas."

Jaboti, com 5.200 habitantes, vive com 100% de fossas sépticas, ainda que já possua a rede de coleta de esgoto há dois meses, como explica o prefeito Vanderley de Siqueira e Silva (PSBD). "As obras já foram feitas e passamos a rede, que dará 25% de cobertura sanitária no município, mas não foi ligada ainda não sei o porquê". O prefeito disse que cobra a ligação por parte da Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná) diariamente. "Está tudo pronto, só falta ligar", diz.

Já o prefeito de Japira, José Geraldo dos Santos (PROS), afirma que a Sanepar fez a análise do terreno para instalação da rede de esgoto, mas que até agora não foi feita nenhuma ação. Santos assumiu a prefeitura há seis meses, com a morte do prefeito eleito Walmir Silva (DEM) em setembro de 2017. Toda cidade, de 5.800 habitantes, utiliza fossas.

A maior cidade dentre as quatro, São José da Boa Vista, com 6.485 habitantes, já assinou convênio com a Sanepar, garante o prefeito Pedro Sérgio Kroneis (PSDB). "A rede atenderá cerca de 60% da cidade. Já foi feita a licitação e compra dos equipamentos e a prefeitura doou espaço para a Sanepar." Ainda que parte dos equipamentos para tratamento do esgoto já esteja comprada, a cidade segue com 100% de fossas sépticas.

"O saneamento no Brasil como um todo não é bom", justifica o gerente da Sanepar, Sérgio Bahls. Ele explica que a empresa só possuía financiamento para cidades com mais de 50 mil habitantes. "Mas estamos fazendo as obras e implantando", destaca.

Há a previsão de coleta e tratamento de esgoto para Jaboti, com a obra já em andamento, conforme Bahls. "Em São José da Boa Vista a obra também está prevista." Quanto a Japira e Jundiaí do Sul, a empresa está se planejando e fazendo tratativas com os municípios para levar o saneamento para as cidades, aponta o gerente. "Estamos desenvolvendo projetos e precisando as áreas adequadas."

Os planejamentos da Sanepar são feitos para até cinco anos. Segundo Bahls, a ideia é deixar o projeto pronto para que, assim que haja recursos, ele já seja pleitado e colocado em execução. Mas, para ele, tratar de saneamento e esgoto é uma dificuldade, uma vez que "entra em conflito com a cultura das pessoas, que não colocam coleta e tratamento de esgoto como prioridade".

"Municípios médios e pequenos têm maiores dificuldades de se envolver na estrutura de saneamento", expõe Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil. Segundo ele, cidades pequenas "não entendem a importância da infraestrutura de uma rede de esgoto porque costumeiramente o prefeito, com quatro anos de mandato, quer mostrar obras". "Para se eleger, os prefeitos costumam dar preferência para obras visíveis [em vez de subterrâneas]", explica.

A ausência do saneamento não é só uma questão ambiental, mas também de saúde pública. De acordo com o presidente, municípios que não investem em redes de esgoto possuem maiores índices de doenças e internações. "Os municípios acabam gastando muito com saúde."

Sérgio Bahls acredita que uma mudança para visão do saneamento básico como prioridade é essencial. "Temos esse trabalho de desenvolvimento da cultura das pessoas para que cuidem melhor do ambiente e da qualidade de vida. Pela falta dessa cultura os recursos não atendem às demandas e têm travado o País como um todo."

A Sanepar não informou os orçamentos reservados para as obras de saneamento devido à restrição legal pela proximidade das eleições. Os recursos são, em maior parte, da Caixa Econômica Federal.

O objetivo da Sanepar é universalizar o saneamento no Estado, garante Bahls. Isso acontece quando a cobertura sanitária fica em 80%. Atualmente, o Estado está perto de 70% de cobertura. De acordo com o Trata Brasil, a cada mil reais investidos na expansão da infraestrutura de saneamento, a sociedade brasileira obtém R$ 1.700 de retorno social a longo prazo. "O primeiro responsável pela função é o prefeito, mas o governador e também os parlamentares são as autoridades do Estado competentes para ajudar os municípios em questões de saneamento", acrescenta Carlos.