Rinaldo Barbosa Silva espera que na consulta desta quarta (5) em Curitiba o tratamento de sua perna receba a atenção e urgência necessárias
Rinaldo Barbosa Silva espera que na consulta desta quarta (5) em Curitiba o tratamento de sua perna receba a atenção e urgência necessárias | Foto: Luiz Guilherme Bannwart/Divulgação



O caso de um vigilante de Santo Antônio da Platina, que sofreu uma grave lesão na perna esquerda após se envolver em um acidente de trânsito no centro da cidade, em abril deste ano, chama a atenção para um problema crônico envolvendo municípios do Norte Pioneiro. Pacientes que necessitam de cirurgias ortopédicas em centros especializados, muitos deles de casos que deveriam ser considerados urgentes, estão sendo obrigados a aguardar durante meses na fila de espera para serem atendidos.

O caso de Rinaldo Barbosa Silva, 46, a cirurgia só pode ser feita no CHC (Complexo Hospital de Clínicas) da UFPR (Universidade Federal do Paraná), em Curitiba. Porém, o tratamento indicado pelo médico que o atendeu no dia do acidente indicou TFD (tratamento fora de domicílio) ao invés de classificar o quadro clínico como urgência e emergência. "Só não perdi a minha perna naquele dia porque ouvi o médico vascular advertindo o ortopedista que ainda havia circulação sanguínea na região fraturada", conta Silva.

Ele permaneceu oito dias internado no Hospital Nossa Senhora da Saúde. Já em casa, a dificuldade para transportá-lo para a manutenção dos curativos no pronto-socorro ou em uma Unidade Básica de Saúde resultaram em outros agravantes. Os médicos responsáveis pelos procedimentos o alertaram para a gravidade da lesão, e para o risco de amputação do membro. Silva teve graves problemas pulmonares que quase o levaram à morte, e os atendimentos então passaram a ser feitos em sua casa. Contudo, a lesão só se agravou a cada dia.

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O vigilante conta que chegou a pagar um médico particular em Jacarezinho que indicou sua transferência imediata para Curitiba, mas ele não suportou a dor durante a viagem e foi obrigado a retornar para casa. Desde então, Silva e sua mulher cobram insistentemente a Secretaria Municipal de Saúde pela atenção médica necessária para evitar a amputação da perna e até mesmo de desenvolver uma infecção generalizada que pode lhe custar a vida.

Carta de prioridade
De acordo com a Secretaria de Saúde de Santo Antônio da Platina, o médico ortopedista responsável pela cirurgia em Silva só entregou a carta de prioridade de atendimento do paciente no final de julho. O documento foi encaminhado à 19ª Regional de Saúde de Jacarezinho, responsável pelos agendamentos de procedimentos eletivos, para que o vigilante deixasse a 18ª posição na fila de espera e passasse para primeiro na lista de consultas no CHC, em Curitiba.

"O responsável em atestar a necessidade de atendimento prioritário ao paciente é o médico. No caso de Silva, o profissional classificou o caso como TFD. A secretaria só tomou conhecimento da gravidade do problema, após visita de um agente de saúde ao paciente no início de julho. Desde então passamos a cobrar o médico que o atendeu pela carta de prioridade, a qual só nos foi entregue no fim do mesmo mês", justifica a diretora municipal de Saúde, Gislaine Galvão.

Segundo Galvão, em Santo Antônio da Platina 157 pacientes estão na lista de espera para consultas ortopédicas em hospitais referência em Londrina e Curitiba. Ela explicou que são casos já avaliados por médicos da região, mas por serem de alta complexidade o município não possui "destreza ou orçamento para realizá-los".

19ª Regional de Saúde
A FOLHA também ouviu a 19ª Regional de Saúde em relação ao problema. O diretor do órgão, Ronaldo Trevisan, informou que a Regional não agenda cirurgias, apenas consultas (nominadas como tratamento fora de domicílio). Segundo ele, o posicionamento é por ordem de chegada do encaminhamento do médico que atendeu o paciente na unidade de saúde, assim como quem determina prioridade é o médico atendente, quando o caso exige mais atenção. "Quando é estabelecida prioridade o paciente passa para o início da fila, como, por exemplo, no caso do Rinaldo (Silva). Quando foi dada entrada para o TFD ele era o 18º na área de ortopedia que lhe era indicada, com a priorização estabelecida ele passou para 1º lugar no procedimento", explicou.

A 19ª Regional, entretanto, não informou o número de pacientes à espera de procedimentos ortopédicos no Norte Pioneiro. Segundo o órgão, o único prestador de serviços habilitado para cirurgias nessa área médica no Estado é o CHC, que recebe os casos enviados pelos hospitais referência.

A reportagem procurou também a assessoria de imprensa do CHC em busca de informações sobre a lista de espera de pacientes da região. Porém, devido ao protocolo, não foi possível obter os dados até o fechamento desta edição.

A boa notícia é que, após quatro meses de espera, muita dor e angústia, o vigilante Rinaldo Silva enfim será consultado nesta quarta-feira (5) em Curitiba. No entanto, ainda não há previsão para a realização da cirurgia emergencial indicada pelos médicos.