Constituem o patrimônio histórico-cultural tombado pelo Estado do Paraná no Norte Pioneiro as pinturas murais de Eugênio Sigaud, preservadas no interior da catedral de Jacarezinho, e seis estações ferroviárias a serem restauradas, já com os projetos em apreciação. Compartilhada pelos municípios de Chavantes (SP) e Ribeirão Claro (PR), a ponte pênsil no rio Paranapanema, tombada pelo Estado de São Paulo, encontra-se restaurada.
Nas décadas de 1920 e 1930, três estações foram construídas no então ramal Paranapanema da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, as de Joaquim Távora, Platina (em Santo Antônio da Platina) e Jacarezinho; e três na Estrada de Ferro São Paulo-Paraná, em Marques dos Reis (distrito de Jacarezinho), Andirá e Bandeirantes.
A SPRG e a SPPR pertenciam respectivamente ao megainvestidor norte-americano Percival Farquhar e aos ingleses da Companhia de Terras Norte do Paraná quando foram encampadas, na década de 40, pela estatal Rede de Viação Paraná-Santa Catarina (RVPRSC), que seria incorporada à Rede Ferroviária Federal S. A. (RFFSA), em 1957. O governo liquida a RFFSA (1996) e concede as duas ferrovias (1999) à América Latina Logística (ALL), agora incumbida de restaurar as estações e fazer a manutenção do desativado ramal Marques dos Reis-Jaguariaíva.
É o que estabelece termo de ajuste de conduta (TAC) firmado em 12 de maio de 2011 com o Ministério Público Federal (MPF). Baseado em sentença da Justiça Federal de Jacarezinho, o acordo relaciona R$ 4,5 milhões para a restauração das seis estações, no prazo de 32 semanas (224 dias) a partir da aprovação dos projetos submetidos à Curadoria do Patrimônio Histórico e Artístico da Secretaria de Cultura do Estado pela ALL.
Segundo o MPF, por sua assessoria de comunicação, nenhuma obra teve início ainda por causa de projetos que ''não estão de acordo com as exigências'' e daqueles não finalizados ''porque existem famílias morando em algumas estações'', alega a ALL. ''Contudo, tais famílias já estão inscritas em programas sociais do governo e estamos aguardando a saída pacífica, sem desalojamento, de forma a terem local para ir'', informa a assessoria. E o MPF ''está acompanhando todo o desenrolar do processo e estudando medidas para abreviar essa situação
Uma família e quatro cães
Cinco das seis famílias invasoras já saíram da estação de Bandeirantes, posta sob vigilância do Município, para evitar a entrada de outras. Inaugurada em julho de 1930, no ''km 81+547,85, altitude de 393 metros'', conforme se lê na placa original, a estação determinou uma povoação contígua e o esvaziamento do Patrimônio Invernada, a três quilômetros, que já era distrito. Assim, a ferrovia mudou o lugar da cidade, que recomeçou na estação. Impressiona a quantidade de roupas, até seminovas, ao redor e nos trilhos, abandonadas pelas famílias que saíram da estação; o vigilante Rogério Siqueira deduz que, pela dificuldade para lavar roupa ali e a quantidade de doações que recebiam, os moradores eram induzidos à comodidade de jogar fora. E deixaram quatro cachorros na estação.
Na rota das estações tombadas, a de Andirá parece envelhecida pela intempérie; em Platina, permanece a ocupação, que ajuda a cercear o vandalismo, acreditam conhecedores. A segunda maior está em Marques dos Reis, muito depredada. Inaugurada em janeiro de 1937, no então km 8 da Ferrovia São Paulo-Paraná (marco 0 em Ourinhos) e 209 da São Paulo-Rio Grande em relação a Ponta Grossa, era onde as duas ferrovias se encontravam, trens nos dois lados da estação. Os passageiros do sul desciam numa plataforma e na outra embarcavam no trem do norte.
Relíquias em Jacarezinho
Maior estação, com 327 metros quadrados, a de Jacarezinho foi inaugurada em 1930 e abandonada quando cessou o transporte de passageiros, em 1976; destruída internamente e com a cobertura desabando na parte central, restam componentes intactos que vão favorecer a restauração da originalidade. Enéas Moraes de Oliveira, filho de ferroviários nascido em Jacarezinho, supõe que já não esteja disponível comercialmente a espécie de madeira sustentando a cobertura da plataforma, com quatro metros e meio de largura. São 37 ''meias-tesouras'' de madeira contornando o prédio, apoiadas diretamente nas paredes, sem esteios. No piso da plataforma, Enéas distingue blocos de um arenito característico da região e ainda se surpreende que não tenham roubado os portões de ferro, relíquias, por terem sido montados sem nenhuma solda.
Idealista não pôde esperar realização
Enéas é irmão de João Mendes de Oliveira, o ''João Cowboy'', fundador da Associação de Preservação Ferroviária de Jacarezinho (APFJ), muito interferiu para que o Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Cepha) tombasse quatro das estações, em 2001, e o Ministério Público Federal iniciasse, em 2006, a ação civil pública com a finalidade de restaurá-las. E virou personagem de tese acadêmica. ''Tudo que se tem feito em defesa da ferrovia, de alguma forma tem relação com ele'', expõe Anides Mikiewski em sua tese de conclusão do curso de História da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Jacarezinho. Surpreendido pelo câncer, João morreu em 2009, aos 56 anos, deixando um projeto de ''trem turístico''. Outra lembrança sua é a placa ao lado da estação, informando as distâncias de Platina e de Marques dos Reis pelos trilhos até Jacarezinho, com assinatura: Cowboys Old North (''Vaqueiros do Norte Velho'').

Falta pouco para estações de trem serem restauradas
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