Quatiguá - O ano era 1930. No mês de outubro, o Brasil fervilhava, sentindo as consequências da crise econômica de 1929 e de uma iminente guerra civil. No Rio Grande do Sul tropas do Exército se rebelaram e exigiam a queda do presidente Washington Luiz, clamando pela posse de Getúlio Vargas. Nesse cenário, o Norte Pioneiro do Paraná teve um papel fundamental: foi palco do principal combate da Revolução de 1930, colocando os rebeldes gaúchos de um lado, e os militares paulistas, apoiadores do governo federal, do outro.
"Foi, sem dúvida, o principal confronto, pois mostrou ao governo federal a força dos rebeldes. O Combate de Quatiguá envolveu mais 3 mil homens, militares profissionais de ambos os lados, e deixou muitos mortos", afirma o historiador Roberto Bondarik, que é estudioso do assunto, professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), em Cornélio Procópio.
Logo após o estopim da revolução, apoiadores de Getúlio Vargas na região tomaram a ferrovia de Jaguariaíva. Uma tropa de elite da Brigada Militar gaúcha, formada por aproximadamente 300 homens, foi mandada para a região para fortificar o ponto. Esses militares travaram o primeiro combate com os paulistas, em Joaquim Távora, no dia 10 de outubro. A vitória foi dos gaúchos, que fizeram cerca de 50 prisioneiros.
Logo em seguida, os gaúchos se dirigiram a Quatiguá (na época um distrito de Joaquim Távora) para dominar a ferrovia ali localizada. "A ferrovia de Joaquim Távora, onde estavam, era de difícil defesa, e eles temiam ser cercados. A de Quatiguá era mais fácil de defender por ser próxima a uma serra e precipícios", conta Bondarik.
O Norte Pioneiro era uma região considerada estratégica para ambos os lados. Por sua proximidade com São Paulo, os gaúchos viam ali uma importante passagem para chegar à Minas e ao Rio de Janeiro, enquanto que os apoiadores do governo federal desejavam frear a subida dos rebeldes para o restante do País.
Outro fator importante para trazer o combate para a região foi o forte apoio que os cafeicultores deram à revolução. "Eram entusiastas de Getúlio e das ideias revolucionárias. Nas eleições presidenciais em Ribeirão Claro, um reduto getulista, todos os opositores foram presos e colocados sob a mira de metralhadoras para não votarem. Existiam fraudes descaradas nas eleições na época, com prisões e ameaças, por isso só venciam os grupos ligados às oligarquias de Minas Gerais e São Paulo. Tudo isso foi revoltando o país, até chegar ao estopim da Revolução de 1930", lembra o historiador.

O PRIMEIRO COMBATE
O primeiro combate em Quatiguá ocorreu no dia 12 de outubro, quando os militares paulistas tentaram retomar a ferrovia do pequeno vilarejo, mas foram vencidos pelos gaúchos. "No cair da noite os paulistas se alojaram na região. O reforço gaúcho chegou no mesmo dia, liderado pelo coronel Alcides Gonçalves Etchegoyen, e visualizou a localização dos paulistas. Traçaram um bom plano, atacando-os já ao amanhecer", explica o professor.
O reforço gaúcho veio em seis comboios de trem, formando um destacamento inicialmente com 2.014 homens, fortemente armados com metralhadoras e canhões. Ao todo, cerca de 3,5 mil soldados combateram, dando a vitória aos rebeldes. Centenas foram feridos e mortos. Não é possível, no entanto, estimar a quantidade de óbitos. "O relatório do coronel Etchegoyen contabiliza cerca de 500 baixas para os paulistas, mas jornais e relatórios da época dão entre 20 e 200 mortos."
A vitória gaúcha repercutiu em todo o país, ressalta o professor. "A forma como as tropas paulistas fugiram de forma desorganizada para seu estado, balançou o governo federal fortemente. O combate demonstrou a capacidade de logística de transporte dos rebeldes, sua organização e disciplina, além da determinação em vencer." No dia 24 de outubro de 1930, tropas revolucionárias marcham sobre o Rio de Janeiro e tomaram o poder, dando início a era Vargas.