A colheita da última safra de café foi praticamente concluída em agosto, segundo o Deral (Departamento de Economia Rural), da Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento). Conforme o departamento, a produção deve ser de 0,95 a 1,05 milhão de sacas de 60kg neste ano. Um volume 17% menor do que a safra passada. Para Paulo Franzini, economista e técnico de café do Deral, a redução deve-se ao ciclo de baixa bienalidade e a diminuição da área cultivada.

O produtor José Francisco da Silva e a esposa exibem com orgulho o café produzido dentro dos conceitos de grãos especiais
O produtor José Francisco da Silva e a esposa exibem com orgulho o café produzido dentro dos conceitos de grãos especiais | Foto: Sebrae/Divulgação



Mas embora o volume seja menor, segundo o Deral, a qualidade dessa produção é muito boa, favorecida pela uniformidade na maturação da maioria das lavouras e pelo tempo seco durante o principal período de colheita e secagem. E se tratando de café de qualidade, quem tem a palavra são os produtores do Norte Pioneiro.

Odemir Capello é consultor do Sebrae em Jacarezinho e gestor do projeto Cafés Especiais, que preza pela qualidade do produto. Para ele, todos os municípios do Norte Pioneiro têm condições de produzir excelentes cafés. "Por conta do clima e da temperatura média", justificou. "As regiões quentes que produzem café o fazem nas montanhas. Aqui, em baixas altitudes, é a temperatura ideal".

Capello contou que quando o projeto foi iniciado, em 2006, pouco se falava de cafés especiais no País. "Nossa proposta é trabalhar com cafés diferenciados", explicou. A Ficafé (Feira Internacional de Cafés Especiais do Norte Pioneiro), que realizou sua 11ª edição no início do mês, faz parte desse projeto. "Já trouxemos mais de 200 compradores", afirmou. Segundo o consultor, todo o processo de certificação, beneficiamento e produção faz com que o café do Norte Pioneiro seja reconhecido no mundo inteiro, e a feira traz essa visibilidade.

Outra ação é o projeto 100% Qualidade, implantado em 2014, pelo qual um grupo de produtores recebe mensalmente consultoria de engenheiros agrônomos especializados em café, para a produção desses grãos especiais, desde o preparo do solo para o plantio até a comercialização.

O Paraná tem investido em programas de apoio à cafeicultura e fomento à produção de cafés especiais e de cafés produzidos por mulheres, por exemplo. "Com o incentivo, as mulheres cafeicultoras estão adotando a recomendação técnica na produção e na pós-colheita, caprichando e colhendo resultados", acrescentou Franzini.

Essa qualidade é a aposta dos produtores para melhorar os preços das sacas. A preocupação dos cafeicultores são os baixos preços praticados no mercado físico. Segundo o Deral, nos últimos doze meses o preço reduziu 9%, comercializado em média a R$395,88 em agosto deste ano, ante R$ 434,38 no mesmo mês do ano passado.

Conforme relatório do Deral, com esses preços os produtores vendem somente para cumprir compromissos de colheita e fluxo de caixa imediato, porque na maior parte essa venda não cobre os custos operacionais.

Segundo Andréia Luchetti, que é sócia-produtora de café no Norte Pioneiro, 99% da produção é exportada e 1% é levada para cafeterias. Ela explica que sua marca nasceu com uma missão: promover os cafés do Norte do Paraná. "Ele é feito de forma artesanal, prezando a qualidade e a seleção dos grãos", explicou.

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Sobre o baixo preço do café, a produtora alega que degustadores dizem que café que dá dinheiro é o que o mercado consome. "Se a tendência mede uma bebida ruim, pagando bem, os produtores não estão interessados na qualidade", opinou. Segundo Luchetti, o cafeicultor não pode fazer somente cafés especiais, "tem que fazer café que o consumidor compre".

"Há a dificuldade porque os consumidores há mais de 20 anos consomem café de baixa qualidade", lamentou. Para ela, é necessário o produtor ter um café de qualidade para demonstrar o valor da produção dele, "mas não pode só fazer café bom, tem que fazer cafés que o mercado absorva. As prateleiras de supermercado vendem cafés que deveriam ser adubo".

Para a produtora, o mercado londrinense é um tabu. "Várias casas que se vendem como cafeterias têm a qualidade do grão lá para baixo", lamentou. A proposta dela é que alavancar as indústrias para que comprem café um pouco melhor.

Seu café é plantado em Congonhinhas, a uma altitude de 700 a 800 metros a nível do mar, Luchetti contou que "a amplitude térmica do local é similar a da produção dos cafés colombianos, com uma temperatura de 17 a 21 graus", disse. "Apesar de estarmos mais abaixo que Colômbia, Minas Gerais e São Paulo, nós temos uma amplitude térmica ideal para cafés especiais".

Luchetti acredita que quem planta café no Paraná é porque gosta muito de café. Isso porque, apesar da temperatura que favorece o cultivo, o Estado passa por intempéries como geadas. "Quem se manteve plantando após a geada de 1975 é mais apaixonado ainda", afirmou.

CHEIRO DO CAFÉ PRETO
"O café extra forte é extra forte não porque ele dá uma bebida melhor na xícara. Se você fizer um café extra forte e conseguir tomá-lo sem adoçar, parabéns. O problema é que em alguns dias é possível desenvolver alguma aversão a esse café, porque ele contém uma quantidade grande de defeitos e a forma que a indústria tem de mascarar esses defeitos é torrando ele bem escuro", esclareceu Luchetti.

A produtora ressalta que os cafés do Norte Pioneiro têm atributos singulares como doçura, corpo e acidez e defende que seu café é feito de forma artesanal. "Respeitamos as condições de trabalho do ser humano dentro do campo. Antes de torrar ele é separado manualmente, depois de torrado passa por mais uma seleção", contou.

Para Paulo Franzini, o Norte Pioneiro é a região mais adiantada no âmbito cafeicultor. "Criou-se uma associação de cafés especiais, há uma identidade geográfica que consegue formar lotes expressivos. A região concentra a maior área cafeeira do Paraná, com uma fatia de 66%", disse.

O gerente regional da Emater em Santo Antônio da Platina, Mauricio Castro Alves, contou que a cidade que mais produz é Carlópolis, seguida de Ibaiti, Pinhalão e Tomazina.

No próximo dia 31, serão divulgados os vencedores do prêmio Café Qualidade Paraná em Pinhalão. A 16ª edição do concurso terá início às 9h no clube Aerp (Associação Esportiva e Recreativa de Pinhalão), na rua Rui Barbosa, 70. Participam do concurso 74 produtores.