GuarulhosS, SP - Aplaudido de pé pelos congressistas dos EUA nesta quarta (16), o líder da Ucrânia, Volodimir Zelenski, evocou episódios da história americana para pedir que o país reforce o apoio a Kiev contra a Rússia.

O presidente ucraniano voltou a pedir o estabelecimento de uma zona de exclusão aérea sobre o território de seu país, proposta até aqui negada pela Otan, a aliança militar ocidental. Para isso, fez uso do famoso discurso proferido em 1963 por Martin Luther King.

Imagem ilustrativa da imagem Zelenski evoca 11 de Setembro para pedir ajuda aos EUA
| Foto: J. Scott Applewhite/Pool/AFP

"Eu tenho uma necessidade: proteger o céu do nosso país. E preciso da ajuda de vocês para isso. É o mesmo que quando vocês dizem a frase 'eu tenho um sonho'", afirmou Zelenski durante o discurso transmitido em um auditório do Capitólio, sede do Legislativo americano.

Ele também pediu novas sanções contra o governo e oligarcas russos, instando empresas americanas a encerrarem quaisquer operações com o país, e reforçou a necessidade de assistência militar.

Outras passagens da história dos EUA foram usadas no discurso do ucraniano. Zelenski pediu que os presentes se lembrassem do ataque japonês à base americana de Pearl Harbor, em 1941, quando ao menos 2.400 morreram, e dos atentados terroristas de 11 de Setembro, que deixaram quase 3.000 vítimas. "O território de vocês também foi atacado, e centenas de inocentes morreram. Lembrem-se disso."

Saudou, ainda, o povo de seu país. Disse que os ucranianos estão, na verdade, lutando por toda a Europa e pela paz no mundo, não apenas pela Ucrânia. "Por oito anos, estamos resistindo contra as agressões russas", disse, em referência à anexação da Crimeia, em 2014, e aos consequentes conflitos que se estenderam na região do Donbass, de maioria étnica russa, na porção leste do país.

Também fez um chamado direto ao presidente Joe Biden. Zelenski agradeceu o apoio do democrata, mas ressaltou que o protagonismo americano no mundo tem seu preço. "Ser o líder do mundo também significa ter de ser o líder da paz", declarou, nas palavras finais de seu discurso de 18 minutos de duração.


O ucraniano, um outsider eleito em 2019 e agora à frente da maior crise de segurança na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, disse que não vê "nenhum sentido na vida" se não puder evitar a morte de mais crianças, aquela que seria a maior preocupação de seu governo.

Autoridades do país disseram nesta quarta que mais de cem crianças morreram como consequência da guerra, iniciada em 24 de fevereiro. As Nações Unidas, que monitoram o assunto, confirmam 64 mortes de crianças, ainda que reconheçam que o número deva ser maior.

Por parte dos democratas, o discurso foi recebido como mais um impulso para que os EUA sigam apoiando Kiev. Para republicanos, foi acolhido como combustível para criticar a gestão do presidente americano, Joe Biden, que acusam de ter agido com lentidão.

Ajuda financeira

Espera-se que Biden anuncie uma ajuda adicional de US$ 800 milhões (R$ 4,1 bi) para o país do Leste Europeu, a serem gastos principalmente com segurança.

Até aqui, os EUA liberaram cerca de US$ 350 milhões (R$ 1,7 bi) em armas no início do conflito, além de remessas de ajuda feitas no ano passado. O Legislativo também aprovou um pacote de US$ 13,6 bilhões (R$ 70 bi) para assistência humanitária e econômica.

A USAID, agência americana para o desenvolvimento internacional, também forneceu US$ 100 milhões (R$ 511 mi) em ajuda humanitária e suprimentos essenciais. Mais de 3 milhões de pessoas emigraram da Ucrânia desde o início da guerra, sendo a maioria para a Polônia.

O discurso de Zelenski ao Congresso americano se dá em meio às negociações com a Rússia, que nesta quarta tiveram as declarações mais otimistas desde o início do conflito. A diplomacia russa disse que partes do acordo estão prestes a ser fechadas e sinalizou que a demanda russa de neutralidade da Ucrânia, de modo a afastar o país da Otan e da União Europeia (UE), poderia ser costurada.