São Paulo - Atletas venezuelanos que participaram dos Jogos Olímpicos no Rio aproveitaram a viagem para voltar com alimentos e remédios para casa, já que o país vive uma grave crise de desabastecimento. "Eu estou aqui [no Rio] para pensar na competição, mas claro que aproveitei para levar para casa coisas que precisamos", afirmou à agência Reuters o velejador Jose Gutierrez, que mora em Caracas e disse que levaria remédios para a família. A jogadora do vôlei de praia Norisbeth Agudo contou que familiares e amigos pediram para ela trazer do Rio remédios e cosméticos.
Alguns evitaram falar sobre temas políticos. "Para evitar ser controverso, eu prefiro não falar sobre o assunto", disse o jogador de basquete Gregory Echenique. Ele descreveu a situação na Venezuela como dura e afirmou que grande parte de sua família se mudou para os Estados Unidos.
A Venezuela terminou a Olimpíada com três medalhas - uma de prata (salto triplo) e duas de bronze (boxe e ciclismo BMX). A delegação do país era composta por 86 atletas.
Os relatos de torcedores venezuelanos que foram até o Rio são semelhantes. "Eu vou aproveitar e comer tudo o que não consigo lá: salmão, bacalhau -faz anos que não vejo bacalhau por lá - e um bom churrasco", afirmou Juan Carlos, de 36 anos, enquanto assistia a um jogo de basquete. Ele disse que também levaria para casa remédios e produtos de higiene.

HERÓIS
Os atletas venezuelanos que voltaram do Rio foram recebidos como heróis em evento nesta segunda-feira (22) pelo presidente Nicolás Maduro. "Felicidades, meninas! Felicidades, meninos! Viva os nossos atletas! Viva o esporte venezuelano! Viva a juventude!", afirmou Maduro em ato no Palácio de Miraflores, em Caracas, durante o qual anunciou a entrega de uma casa para cada atleta que participou da Rio-2016. A medalhista de prata, Yulimar Rojas, não estava presente porque iria competir na Liga de Diamante do atletismo, na Suíça.
Maduro anunciou que já aprovou recursos para iniciar o planejamento rumo à Olimpíada de Tóquio-2020, incluindo bolsas de estudo em dólares, mas não especificou o montante. O presidente venezuelano aproveitou os Jogos Olímpicos para aumentar o número de aparições televisivas.
Em pronunciamento transmitido na semana passada, por exemplo, Maduro creditou a conquista da prata por Rojas às ações estatais - em maio deste ano, a atleta havia ganhado um carro do governo.
"Alguns anos atrás essa garota estava em Barcelona [Venezuela], e o programa social 'Missão dos Esportes na Favela' chegou, a descobriu e deu todo o apoio do mundo. Graças a quem? À Revolução Bolivariana, ao nosso comandante [Hugo] Chávez e à revolução esportiva."