Um ano após atentado, cresce tensão no Oriente Médio
No Líbano, algumas áreas estão sem água e energia e com poucos alimentos; por outro lado, antissemitismo cresce no mundo
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 07 de outubro de 2024
No Líbano, algumas áreas estão sem água e energia e com poucos alimentos; por outro lado, antissemitismo cresce no mundo
Jéssica Sabbadini - Especial para a FOLHA

Um ano após o ataque do grupo terrorista Hamas em Israel, no dia 7 de outubro de 2023, a região do Oriente Médio vive em constante conflito e sob ameaças e medo. Há poucas semanas, ataques israelenses passaram a ter como destino o Líbano, país que concentra muçulmanos, cristãos e judeus. O governo israelense justifica que a ofensiva tem como alvo o grupo terrorista Hezbollah. A FOLHA ouviu pessoas dos dois lados sobre as consequências dos conflitos.
Nascida em Beirute, capital do Líbano, Rita Bou Karam vive em uma região montanhosa chamada Ajaltoun, a pouco mais de uma hora da capital. Ela tem familiares vivendo na cidade de Londrina.
Ela conta que os ataques começaram no dia 24 de setembro na região sul do Líbano, o que fez com que muitas pessoas deixassem suas casas. Segundo a libanesa, o governo israelense avisou em quais áreas seriam os ataques. “Eles têm uma hora para sair de casa [antes de começar os ataques]”, afirma, complementando que a maior parte das pessoas que vive na região atacada é muçulmana. A estimativa é de que pelo menos 2 mil pessoas morreram durante os ataques ao Líbano.
De acordo com ela, a grande maioria das escolas está fechada para abrigar as pessoas, já que a maior parte não tem para onde ir. “A outra parte do povo está dormindo na rua”, relata. Segundo ela, o governo não está mais fornecendo cobertores e colchões, por exemplo.
Karam afirma que eles estão com medo, pois não sabem quando serão os próximos ataques: “[a gente não sabe] se eles vão destruir o Líbano inteiro”. Ela conta que muitos já estão sem água e sem energia e que a família estocou um pouco de alimento, já que os mercados também estão quase todos fechados.
Ela relata que Israel não ataca tanto a parte cristã do país, sendo que as ofensivas têm como principal alvo a região onde a população muçulmana vive.
Com uma filha de 8 anos, ela tem medo até de sair de casa e preocupa-se também com a situação financeira, já que é proprietária de uma loja de roupas. “Como vou viver se não vendo roupas?”, questiona, complementando que as pessoas estão mais preocupadas em comprar alimentos.
Segundo ela, a situação é ruim, mas que em alguns momentos o pensamento é de que eles já estão acostumados com os conflitos. “Eu nasci com guerra e acho que vou morrer com guerra”, lamenta, complementando que nunca houve paz de fato no país.
Durante a noite, ela e o marido ficam em frente à televisão para acompanhar as notícias e para saber qual será a próxima região a sofrer com os ataques vindos de Israel. “A gente tem medo”, afirma. No lado muçulmano de Beirute, a maior parte dos prédios já foi destruída. O aeroporto da capital também está fechado. “Cada dia está pior.”
Crescimento do antissemitismo
Presidente da Federação Israelita do Paraná, Alexandre Knopfholz explica que o “7 de Outubro” é considerado o evento mais grave contra o povo judeu desde o Holocausto. Segundo ele, o ataque ocorreu em um momento de paz entre as nações do Oriente Médio e foi caracterizado pela selvageria e crueldade contra o povo judeu.
“Isso fez com que desencadeasse todo esse conflito no Oriente Médio, que é um conflito absolutamente histórico”, aponta, complementando que dois grupos terroristas tentam, a todo custo, eliminar o Estado de Israel, sendo eles o Hamas e o Hezbollah, o que motivou o contra-ataque israelense.
Fora de Israel, o objetivo das comunidades judaicas é combater o antissemitismo, explica Knopfholz, que sempre existiu, seja por questões econômicas, políticas ou raciais. “Até se diz que o antissemitismo é o mais antigo dos ódios. Existe uma coisa inexplicável sobre esse ódio aos judeus”, aponta, complementando que o antissemitismo enfrentou um crescimento neste ano em todo o mundo, incluindo no Paraná, onde vivem cerca de 3 mil judeus.
Ele cita como exemplo casos de saudações nazistas e desenhos de suásticas dentro das salas de aula, além da invasão de lojas em que os proprietários são judeus. O presidente ressalta que questionar a conduta de um governo como o de Israel é legítimo e saudável dentro de uma democracia, mas é preocupante quando envolve o discurso de ódio contra todo um povo.

