Washington - Pela segunda vez em dois meses, o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump se apresentou à Justiça, foi fichado, virou réu em um caso criminal e alegou inocência. Desta vez, nesta terça-feira (13), em um tribunal federal no centro de Miami. Ele responderá a 37 acusações por manter consigo documentos secretos após deixar a Casa Branca.

Presença de Trump no tribunal provocou protestos contrários e favoráveis ao republicano
Presença de Trump no tribunal provocou protestos contrários e favoráveis ao republicano | Foto: Ricardo Aduengo/AFP

É um dos grandes testes da política americana, uma vez que Trump, pré-candidato à Presidência, vai responder a uma investigação federal conduzida pelo Departamento de Justiça de Joe Biden - que será seu adversário na eleição de 2024 se o republicano receber de fato a indicação de seu partido, como apontam as pesquisas até aqui.

Por isso, ele tem defendido que o processo é perseguição política e um complô para evitar sua vitória. A Casa Branca, no entanto, tem tentado se distanciar do processo e Biden disse que não falou nem falará com seu secretário de Justiça, Merrick Garland, sobre o tema.

Embora seja a primeira acusação federal que responderá, é a segunda vez que Trump é indiciado criminalmente - ele é o primeiro ex-presidente americano a responder a processos criminais. Em abril, Trump se tornou réu pela Justiça de Nova York e responde a acusações sobre fraude envolvendo a compra do silêncio de uma atriz pornô antes das eleições de 2016, quando foi eleito presidente.

Como da primeira vez, as autoridades não devem tirar uma fotografia de Trump como suspeito, mas podem colher suas impressões digitais. Em casos do tipo, é comum que os juízes proíbam os réus de deixarem o distrito onde são processados, mas deve haver uma exceção para o republicano, que está em campanha. Ainda não está claro se o ex-presidente terá que entregar seu passaporte.

Um esquema de segurança foi montado na porta do tribunal, a Corte Distrital do Sul da Flórida, onde a polícia esperava entre 5 mil e 50 mil pessoas após convocação do próprio ex-presidente, que escreveu em rede social, em maiúsculas, "Vejo vocês em Miami na terça".

A milícia de ultradireita Proud Boys, com membros condenados pela invasão violenta do Congresso em 6 de janeiro de 2021, convocou manifestação em frente ao tribunal. Aliados de Trump como Kari Lake e o deputado Andy Biggs chegaram a dizer que o país "chegou à fase de guerra".

Até o começo da tarde havia algumas centenas de pessoas no local, sem sinal de violência. Trump tem na Flórida, onde mora na maior parte do tempo desde que deixou a Presidência, uma forte base de apoiadores.

O processo de agora é considerado mais robusto que o de Nova York, e por isso preocupa menos as autoridades que tenha caído nas mãos de uma juíza indicada ao cargo pelo republicano, Aileen M. Cannon, que já foi criticada por tomar decisões a favor dele. Trump responderá a 37 acusações - 31 delas por "retenção intencional de informação de defesa nacional", crime previsto pela lei de espionagem com pena de até 10 anos, além de queixas por conspiração para obstrução de Justiça.

Autoridades retiraram de seu resort em Mar-a-Lago, no sul da Flórida, dezenas de caixas com documentos ultrassecretos que não deveriam ter saído da Casa Branca, com informações sobre programas nucleares, capacidades militares e pontos de vulnerabilidade dos EUA e de aliados e até planos de ataques a outros países, segundo a investigação. No total, considerando documentos que foram entregues voluntariamente em janeiro de 2022 e apreendidos por policiais em agosto, há cerca de 300 papéis sigilosos.