Washington - O ex-presidente Donald Trump voltou a Washington nesta quinta (3), mas não como gostaria. Ele se apresentou à Justiça às 16h25 para ser acusado formalmente por atentar contra pilares da democracia.

Na ocasião, ele se declarou não culpado pelos quatro crimes de que é suspeito, uma lista que inclui de conspiração para defraudar os Estados Unidos à obstrução de procedimento formal segundo documento divulgado pelo conselheiro especial do Departamento de Justiça Jack Smith na última terça (1).

A pena máxima prevista varia de cinco a 20 anos, a depender da acusação. O tempo total de prisão, porém, vai depender da sentença e por quais acusações ele for condenado, caso seja.

Depois da audiência, ao embarcar de volta para Nova Jersey, o ex-presidente afirmou que aquele era "um dia muito triste para o seu país. "Esta é uma perseguição política. Isso não deveria poder acontecer nos EUA."

A primeira audiência com a juíza responsável pelo caso,Tanya S. Chutkan, foi marcada para 28 de agosto. Ela já afirmou que pode dispensá-lo de comparecer pessoalmente a essa etapa. A data do julgamento ainda não foi definida. Acusação e defesa devem apresentar suas propostas nos próximos dias.

As acusações feitas esta semana se somam àquelas de outros dois processos: um na Justiça de Nova York, envolvendo a compra do silêncio de uma atriz pornô na campanha de 2016, e outro, na Justiça Federal, relacionada à posse ilegal de documentos secretos da Casa Branca após Trump ter deixado a Presidência.

Assim, trata-se da terceira vez que o republicano comparece perante um juiz neste ano. A audiência desta quinta, chamada em inglês de "arraignment", equivale à audiência de instrução no Brasil, etapa inicial de um processo criminal, em que o réu ouve as acusações e é questionado se declara-se culpado ou não.

Nas duas audiências anteriores, Trump afirmou não ser culpado. Ele também teve apenas as digitais coletadas - não tiraram a fotografia, conhecida como "mugshot", que costuma ser registrada pela Justiça.

A audiência ocorreu no tribunal E. Barrett Prettyman, nas proximidades do Capitólio, palco da invasão orquestrada por apoiadores do ex-presidente em 6 de janeiro de 2021, na tentativa de impedir a confirmação da vitória de Joe Biden à Presidência, em 2020. Então, cinco pessoas morreram.

O episódio, junto às tentativas de Trump de reverter sua derrota na eleição, é o pano de fundo do processo na Justiça Federal ao qual ele responde agora e que pode resultar em penas de até 20 anos de prisão.

Em preparação para a audiência, um grande esquema de segurança foi montado na capital. Em frente à corte, dezenas de manifestantes, entre apoiadores e opositores de Trump, tentavam atrair a atenção dos jornalistas. Caixas de som, megafones, bandeiras e fantasias foram alguns dos métodos empregados.

Poucos manifestantes estavam na frente do tribunal nesta terça. Um deles é o brasileiro-americano Daniel de Moura, 32. Ele afirma morar nos EUA há cerca de seis anos e se define como ativista político. Com uma bandeira em apoio a Trump, ele diz que o republicano "defende a população de toda a corrupção" e que a eleição foi roubada de Trump, assim como teria ocorrido com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele afirma ainda que pessoas que participaram da invasão do Capitólio foram presas sem terem feito nada.

Já Domenic Santana, 61, veio protestar contra o ex-presidente. Apesar de se identificar como republicano, ele afirma que Trump é um "rato", um "artista da mentira", e que os republicanos que ainda o apoiam são "zumbis". Nas primárias republicanas, ele diz apoiar o ex-governador de Nova Jersey Chris Christie.

O restante dos manifestantes estava concentrado numa mesma área, o que gerou alguns embates verbais. Uma mulher com um megafone fez críticas ao republicano para se sobrepor às falas de trumpistas, e outra levou uma caixa de som, circulando com a placa "turnê de celebração da acusação contra Trump".