BAURU E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Caminhando e fazendo sinal de positivo com as mãos, Donald Trump deixou o hospital militar Walter Reed na noite desta segunda (5). Ele passou três dias internado para tratar da infecção por coronavírus --e vai continuar o tratamento na Casa Branca.

Usando máscara, Trump andou sem ajuda até o carro que o levou ao helicóptero oficial. Chegando à Casa Branca, porém, ele removeu a proteção e posou para fotógrafos.

Mais cedo, o republicano, além de anunciar nas redes sociais que voltaria para casa nesta segunda, voltou a minimizar o vírus. "Estou me sentindo muito bem! Não tenha medo da Covid. Não a deixe dominar sua vida. Nós desenvolvemos, no governo Trump, ótimos remédios e conhecimento. Sinto-me melhor do que há 20 anos."

Logo depois da declaração, a presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, em entrevista à rede MSNBC, ironizou o anúncio e disse esperar que a equipe médica do tenha concordado com a decisão.

Os profissionais de saúde que tratam o republicano no centro médico militar em Maryland, próximo a Washington, confirmaram a alta dada a Trump em entrevista coletiva, mas fizeram ressalvas.

Sean Conley, médico da Casa Branca, disse que o presidente atingiu ou excedeu todos os critérios para tal, mas que ele ainda não está totalmente fora de perigo. Mesmo assim, estava liberado a ir para casa.

Ainda de acordo com a equipe médica, o presidente não reclamou de problemas respiratórios, não teve febre nas últimas 72 horas e recebeu a terceira dose do remdesivir, um antiviral criado para combater o ebola e autorizado para uso emergencial em pacientes infectados pelo coronavírus.

Por outro lado, os médicos se esquivaram de algumas perguntas sobre a condição do presidente, incluindo possíveis danos no pulmão e a data de seu último teste negativo. Conley justificou a decisão com base em uma lei que restringe a divulgação de certas informações de pacientes.

Assim, Trump, que por duas vezes teve de receber oxigenação suplementar e teve febre alta no dia da internação, na sexta (2), volta à Casa Branca, onde, segundo os médicos, poderá receber qualquer atendimento e procedimento realizado no hospital.

Contaminado pelo coronavírus e no centro de uma série de informações confusas e contraditórias sobre seu real estado de saúde, Trump, 74, tem feito o que pode para demonstrar força e vender a imagem de que seu empenho para tentar a reeleição em 3 de novembro não esmoreceu.

Nesta segunda, o republicano fez quase 20 novas publicações no Twitter, reforçando as principais bandeiras de seu projeto político e estimulando sua base a ir às urnas --o voto nos EUA não é obrigatório.

Por meio de frases curtas em letras maiúsculas, Trump falou sobre defesa da Segunda Emenda (que garante o acesso às armas), retorno dos soldados americanos (promessa não cumprida de sua última campanha), liberdade religiosa e Força Espacial, entre outros temas. Também reiterou os discursos de "lei e ordem", amplamente utilizado para reprimir atos antirracistas, e de crítica à imprensa, a quem se referiu como "mídia fake news corrupta".

No domingo (4), horas depois da entrevista coletiva em que Conley, o médico da Casa Branca, enfim admitiu que Trump precisou de oxigênio suplementar após receber o diagnóstico de Covid-19, o presidente saiu do hospital para uma visita surpresa a apoiadores reunidos na região.

Entre bandeiras americanas, cartazes expressando apoio e declarações de amor ao líder republicano, o carro blindado com agentes do Serviço Secreto americano circulou pelos arredores do centro médico. No banco de trás, usando uma máscara de proteção, Trump acenou aos seguidores e, mais tarde, voltou à suíte presidencial que lhe serve de leito hospitalar.

Segundo a Casa Branca, o passeio foi autorizado pela equipe médica, e os envolvidos adotaram precauções sanitárias. Para especialistas, entretanto, a saída do hospital foi imprudente e desnecessária.

"Cada pessoa no veículo durante o 'passeio' presidencial completamente desnecessário agora tem que ser colocado em quarentena por 14 dias", disse James Phillips, médico assistente no hospital Walter Reed, o mesmo em que o presidente está internado, em rede social. "Eles podem ficar doentes. Eles podem morrer. Para teatro político. Comandados por Trump para colocar suas vidas em risco pelo teatro. Isto é loucura."

A médica Leana Wen, especializada em atendimentos de emergência, questionou a sanidade mental do presidente. "Se Trump fosse meu paciente, em condição instável e com uma doença contagiosa, e de repente saísse do hospital para um passeio de carro que põe a si mesmo e a outros em perigo, chamaria seguranças para contê-lo e, em seguida, faria uma avaliação psiquiátrica para examinar sua capacidade de tomar decisões."

Trump se defendeu das críticas pela saída do hospital e voltou a atacar a imprensa nas redes sociais. "A mídia está chateada porque entrei em um veículo seguro para agradecer aos muitos fãs e apoiadores que estiveram do lado de fora do hospital por muitas horas, e até dias, para prestar homenagem ao seu presidente. Se eu não fizesse isso, a mídia diria [que fui] RUDE!".

Ainda é cedo para saber qual será o impacto dessa crise nas urnas. Embora tenha dito aos americanos para "não ter medo da Covid", Trump contraiu um vírus que já matou ao menos 209 mil pessoas no país, e o que se sabe sobre o tratamento dele indica que o caso pode não ser simples, na contramão dos boletins divulgados pela equipe médica.

No sábado (3), Mark Meadows, chefe de gabinete de Trump, contrariou os médicos e disse que o presidente estava passando por um período "muito preocupante". Depois da repercussão, ele falou novamente com os jornalistas e adotou tom mais otimista.

Mais tarde, à Fox News, o chefe de gabinete admitiu que o estado de saúde do presidente era muito pior do que o inicialmente informado. Segundo o divulgado pela equipe médica, Trump está sendo submetido a três diferentes tratamentos. Além do antiviral remdesivir, os médicos também deram a ele o coquetel conhecido como REGN-COV2, uma combinação de cópias sintéticas de anticorpos humanos.

Mais recentemente, o líder americano também começou um tratamento com a dexametasona, esteroide recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apenas para casos graves de Covid-19.