Bruxelas, Bélgica - Garotas de branco e flores nas mãos são a face mais visível do sexto dia de protestos contra Alexandr Lukachenko na Belarus, mas a peça-chave do dia são os operários das grandes indústrias estatais. Foi a eles que falou diretamente nesta sexta (14) o líder autocrata bielorrusso -que ocupa o poder há 26 anos e foi reeleito no domingo com declarados e contestados 80% dos votos.

No sexto dia de protestos, bielorrussos vão às ruas contra o presidente que está no poder há 26 anos
No sexto dia de protestos, bielorrussos vão às ruas contra o presidente que está no poder há 26 anos | Foto: AFP/Sergei Gapon

Também foi a eles que agradeceu a principal candidata da oposição, Svetlana Tikhanovskaia, em vídeo gravado na Lituânia, para onde foi por questões de segurança, segundo sua campanha.

Os comitês de trabalhadores eram até então considerados a espinha dorsal da base de Lukachenko, que se apresenta como representante do "bielorrusso comum" e atribuía qualquer manifestação de oposição a "desocupados de passado criminoso que deveriam ser forçados ao trabalho honesto". Nesta sexta, porém, o autocrata viu um terceiro dia de protestos nas fábricas contra a repressão violenta que já deixou ao menos dois mortos, centenas de feridos, milhares de presos e desaparecidos e um número crescente de denúncias de tortura.

"Agradeço aos colaboradores da BMZ [aço], da MAZ [montadora], do THP [parque tecnológico] e das demais equipes que aderiram", disse Tikhanovskaia em vídeo.

Entre as demais equipes estão trabalhadores de megaempresas como Grodno Azot (fertilizantes), Zhabinka (usina de açúcar), Integral (circuitos eletrônicos) e Usina Eletrotécnica de Kozlov. A maioria das empresas havia mantido os trabalhos na quinta, mas, nesta sexta, crescem anúncios de greves e paralisações por algumas horas. "Próxima estação: novo presidente", dizia o slogan dos metroviários, que prometeram deixar o transporte público aberto para facilitar o trânsito de manifestantes.

O chão de fábrica não é o único espaço em que Lukachenko aparenta ter perdido terreno nos últimos dois dias. Auxiliares de seu governo, âncoras de TVs estatais, empresários de TI e ex-militares e policiais, alguns deles presos por se recusarem a reprimir manifestações pacíficas, deixaram seus cargos.

Na noite de quinta, sob pressão interna e externa, o governo anunciou a liberação de cerca de 1.000 dos 7.000 presos desde domingo.

Natalia Kochanova, presidente da Câmara Alta do Parlamento (que na prática é submissa ao Executivo), disse que Lukashenko determinou "revisão urgente de todas as prisões". Apesar do aparente recuo, a Anistia Internacional, a Organização Mundial contra a Tortura e outras entidades de direitos humanos e direitos civis começaram a recolher provas de tortura para denunciar Lukachenko ao Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade.

A oposição -e alguns líderes estrangeiros- defendem a recontagem dos votos e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, pediu nesta sexta sanções ao governo de Lukachenko.