São Paulo - Em mais um dia de morde-e-assopra desde que reassumiu o poder no Afeganistão, o Talibã concordou em liberar a saída de estrangeiros em voos fretados partindo de Cabul. Ao mesmo tempo, colocou em prática seu primeiro decreto, banindo manifestações pelo país.

Soldados do Talibã na pista do aeroporto de Cabul, de onde partiriam voos para o exterior
Soldados do Talibã na pista do aeroporto de Cabul, de onde partiriam voos para o exterior | Foto: Wakil Kohsar/AFP

Há ainda cerca de 200 americanos e outros estrangeiros querendo deixar o país, que ficaram para trás durante a caótica retirada final comandada por Washington, de 14 a 30 de agosto.

A operação retirou cerca de 124 mil pessoas, a maioria composta de afegãos que trabalharam para forças ocidentais nos 20 anos de ocupação do país asiático.

Os novos voos são os primeiros autorizados para fora do país após o aeroporto ter sido reparado por uma força-tarefa do Qatar. A última decolagem internacional havia sido a de um C-17 americano, com os últimos militares e diplomatas a deixar o Afeganistão, no dia 30.

A nova retirada foi negociada, segundo agências de notícia, pelo antigo enviado americano ao Afeganistão, Zalmay Khalilzad. Agora, apesar da promessa do Talibã de liberar que quiser sair, não se ouviu uma palavra sobre civis locais.

Isso condiz com a repressão gradual que os fundamentalistas, expulsos do poder por terem abrigado a rede Al Qaeda durante a preparação e execução dos ataques de 11 de setembro de 2001, têm implementado no país.

Inicialmente, visando ganhar confiança de potenciais doadores internacionais, os talibãs adotaram um tom ameno, dizendo que não repetiriam as trevas que impuseram de 1996 a 2001 no Afeganistão.

Mulheres, destas vez, teriam papel ativo na vida pública, desde que em conformidade com a lei islâmica. Como a leitura literal da sharia as relega a papéis domésticos e submissos, como ocorreu na primeira gestão talibã, a desconfiança ficou no ar.

Assim, desde a quinta passada (2), grupos de mulheres tomaram corajosamente as ruas em algumas cidades maiores do país, notadamente a capital, Cabul. Houve atos maiores, com centenas de pessoas, e menores.

Após uma surpreendente permissão inicial, veio ao poucos a repressão. Na quarta (8), mulheres e jornalistas foram chicoteados por talibãs. O Ministério do Interior editou seu primeiro decreto desde a terça (7), quando o novo governo afegão foi instalado oficialmente.

Comandada pelo terrorista internacional Sirajuddin Haqqani, a pasta proibiu novas manifestações no país que não sejam autorizadas, e que no momento, "nenhuma está". Slogans contrários ao Emirado, como o país agora é chamado por seus novos-velhos comandantes, estão proibidos.

Jornalistas afegãos contaram em redes sociais que vários atos pequenos foram dispersado em Cabul, mas sem a violência registrada na véspera - em Herat, duas pessoas morreram baleadas na confusão após os talibãs suspenderem um protesto.