São Paulo - O Taleban conquistou a sétima capital provincial do Afeganistão em cinco dias, ampliando o cerco aos bolsões governistas no país. Os Estados Unidos, por sua vez, advertiram que uma vitória militar irá isolar o grupo fundamentalista islâmico.

Avanço do Taleban tem desalojado famílias afegãs
Avanço do Taleban tem desalojado famílias afegãs | Foto: Wakil Kohsar/AFP

A bola da vez nesta terça (10) foi Farah, capital da província homônima perto da fronteira com o Irã, um ponto importante para aumentar o cerco a Herat - cidade importante ao norte dela. "Eles capturaram o escritório do governador e o quartel-general da polícia", disse à agência France Presse Shahla Abubar, membro do conselho local. Outros órgãos, como a rede Al Jazeera, confirmaram a informação.

O avanço dos talebans, 20 anos após terem sido expulsos do poder pela invasão americana em retaliação à guarida que o grupo dera à rede Al Qaeda nos atentados do 11 de setembro de 2001, vem sendo vertiginoso. Até porque negociava um tratado de paz enfim assinado com os Estados Unidos em outubro passado, o grupo vinha moderando suas ações e as limitando a áreas de interior. Desde o domingo retrasado, lançou uma grande ofensiva contra centros urbanos.

O motivo foi a retirada norte-americana e de seus aliados ocidentais do país, decidida em abril e que já chegou a 95% das tropas, devendo acabar no dia 31. O presidente Joe Biden manteve o arranjo feito por Donald Trump e avisou que os afegãos deveriam cuidar de seu destino.

Na prática, entregou o país ao Taleban. De sexta para cá, caíram Zaranj, Sheberghan, Sar-e-Pul, Kunduz, Taloqan, Aybak e, agora, Farah. Com o oeste e o norte sendo dominados, está sendo fechado o cerco à mais importante cidade do noroeste do país, Mazar-i-Sharif.

Segundo o Taleban, já há combates em sua periferia. Centros ao sul como Kandahar seguem sob ataque, assim como Lashkar Gah, mais a oeste. A União Europeia estima que 65% do território afegão já está fora do controle do governo em Cabul - o país tem ao todo 34 províncias, mas muitas são minúsculas.

O presidente afegão, Ashraf Ghani, apelou nesta terça a líderes tribais para que não mudem de lado e apoiem o Taleban, como já foi registrado em alguns pontos. Essas lealdades móveis sempre foram centrais nas disputas de poder no Afeganistão desde que a guerrilha islâmica ajudou a expulsar os soviéticos em 1989, quando o país entrou em um período de guerra civil.

Em 1996, apoiados pelo Paquistão, os talebans chegaram ao poder e instituíram um regime medieval de extrema violência contra mulheres e minorias. Só caiu por ter dado abrigo a Osama bin Laden e seus terroristas, mas nunca deixou de existir.

O avanço taleban deixa o grupo numa posição de força. No seu acordo com os EUA, teoricamente ele deveria ser incluído num governo nacional, mas tudo indica que isso talvez não seja necessário.