Hassloch - Na eleição mais imprevisível e acirrada da história da Alemanha, o Partido Social-Democrata (SPD), de centro-esquerda, superou a União (CDU-CSU), de centro-direita. De acordo com os dados divulgados pela comissão eleitoral nesta segunda (27), o SPD, de Olaf Scholz, ficou com 25,7% dos votos, enquanto a União, de Armin Laschet, obteve 24,1%. Foi o pior resultado já obtido na história pela dupla União, da primeira-ministra Angela Merkel, que em 2018 anunciou que não disputaria a reeleição.

De acordo com a comissão eleitoral, o SPD, de Olaf Scholz, ficou com 25,7% dos votos
De acordo com a comissão eleitoral, o SPD, de Olaf Scholz, ficou com 25,7% dos votos | Foto: Odd Andersen/AFP

O cenário não permite prever quem pode se tornar o sucessor de Merkel; indica apenas o início de complexas negociações —que podem levar semanas— para a formação de uma coalizão. Tanto o SPD quanto a CDU disseram após a divulgação de pesquisas de boca de urna que tentarão formar separadamente, até o Natal, uma coligação para governar o país.

Hoje, as duas legendas compõem a aliança que dá sustentação a Merkel; a primeira-ministra fica no cargo até a eleição de um novo premiê.

De acordo com os dados oficiais, os Verdes terminaram em terceiro lugar (com 14,8%), seguidos pelos liberais da FDP (11,5%), de direita, e, mais atrás, a ultradireitista AfD (10,3%) e os socialistas do partido A Esquerda (4,9%). Embora abaixo dos 5% necessários para integrar o Parlamento, a Esquerda elegeu três representantes diretos, o que lhe permite obter assentos.

A comissão eleitoral ainda deve divulgar resultados finais, em um prazo de três semanas, mas, nas últimas eleições, a diferença entre o boletim preliminar e o final tem ficado em redor de 0,02% dos votos.

Na comparação com a eleição de 2017, os resultados mostram um recuo forte da União, que levou 33% dos votos há quatro anos (9 pontos percentuais de diferença). Também se observou um avanço dos Verdes, que haviam ficado com 8,9% e devem obter agora seu melhor resultado em 40 anos de existência. O SPD igualmente ganhou projeção: em 2017, obteve 20,5% dos votos, em seu pior desempenho na história.

"Estou seguro de que os eleitores no futuro estarão felizes com a decisão que fizeram de votar no SPD", disse Scholz, no começo da noite. Ele listou três prioridades para um possível governo: "respeito para todos" —o que inclui aumento do salário mínimo e aposentadorias—, inovação industrial e combate à crise climática.

Do outro lado, o clima era um pouco diferente: Laschet disse a apoiadores que seu partido não poderia se satisfazer com os resultados. "Faremos todo o possível para construir um governo de liderança conservadora porque os alemães agora precisam de uma coalizão futura que modernize nosso país", afirmou. “Provavelmente será a primeira vez que teremos um governo com três sócios.”

Os eleitores alemães votam em deputados, não no candidato a premiê, que precisa ser aprovado pela maioria do Bundestag (equivalente à Câmara dos Deputados). Por isso, a formação de coligações é essencial, e o cenário de agora permite um vasto leque delas —mais à direita ou mais à esquerda.

O novo primeiro-ministro vai chefiar o governo da economia mais poderosa da Europa, cujo PIB em 2020 se aproxima de US$ 4 trilhões (R$ 21 tri, pelo câmbio atual) e representa 28% da zona do euro.

A Alemanha é também a quarta maior economia do mundo, em termos absolutos, ou a quinta pelos cálculos do Banco Mundial que relativizam o poder de compra, para permitir comparações (PPP). É a maior exportadora da Europa e a terceira maior do mundo.

O novo premiê tentará manter a grande influência política que a Alemanha costuma ter, e Angela Merkel tinha, na União Europeia.

Cientistas políticos e especialistas em pesquisas eleitorais apontaram que essa foi a eleição mais imprevisível desde o pós-Segunda Guerra Mundial. Foi a primeira vez em 75 anos que um premiê no cargo não se lançou à reeleição -a primeira-ministra, que deixa o governo aclamada pelos alemães, anunciou em 2018 que não disputaria a quinta eleição neste ano.