São Paulo - O governo da Rússia apresentou novos livros didáticos voltados a alunos do ensino médio com narrativa favorável à invasão da Ucrânia, iniciada em fevereiro do ano passado. O material ecoa o discurso adotado pelo presidente russo, Vladimir Putin, de que a ofensiva tem o objetivo de "desnazificar" o país vizinho.

As apostilas são direcionadas a estudantes de 17 anos e serão incluídas nas escolas russas a partir de setembro, segundo o jornal britânico “The Guardian”. Os livros reúnem informações históricas de 1945, quando terminou a Segunda Guerra Mundial, até os dias atuais. A Guerra da Ucrânia é mencionada como "operação militar especial", forma da qual o Kremlin ainda se refere ao conflito em curso há 18 meses.

O ministro da Educação da Rússia, Serguei Kravtsov, disse que o material foi escrito em pouco menos de cinco meses. "Após o fim da operação militar especial [na Ucrânia] e da nossa vitória, complementaremos este livro", disse ele no evento de lançamento, segundo o “Guardian”.

As apostilas acusam o Ocidente de tentar desestabilizar a Rússia. Também retratam Moscou como vítima de agressões e que, por isso, precisa "lutar pela própria existência". Ao descrever as origens da Guerra na Ucrânia, os livros reforçam os argumentos de Putin de que o conflito foi provocado por países ocidentais.

A Ucrânia ainda é descrita como um "Estado artificial", classificação que também ecoa declarações de Putin sobre a história comum de russos e ucranianos - o presidente já disse que a Rússia foi "roubada" quando Kiev declarou a independência.

O país invadido ainda é mencionado várias vezes como um "Estado nazista" - analistas refutam a tese, mas ressaltam a presença de grupos de extrema direita e com inclinações nazistas, como o Batalhão Azov, conhecido por participar da resistência em Mariupol.

Os livros ainda mencionam soldados russos "salvando a paz" em 2014, quando Moscou anexou a península da Crimeia. Já as sanções impostas a Moscou são descritas como atos piores dos que os determinados por Napoleão Bonaparte (1769-1821), líder francês que ordenou a invasão russa em 1812.

Após a invasão à Ucrânia, a Rússia instaurou censura à imprensa operando no país. Ainda no começo da guerra, o presidente Putin sancionou uma lei que prevê até 15 anos de prisão a jornalistas que divulgarem o que o governo considerar fake news sobre o conflito.

A repressão se estende ao setor educacional. Em abril, uma menina russa foi afastada de seu pai depois de fazer um desenho em apoio à Ucrânia na escola. Um tribunal russo também condenou um ex-professor de história a cinco anos e meio de prisão por criticar a guerra on-line.