Washington - Donald Trump transformou em ato político sua fotografia como réu, a famosa "mug shot", tirada na última quinta-feira (24) em uma cadeia em Atlanta. Em resposta, um grupo de republicanos contrário ao ex-presidente americano lançou sua própria campanha publicitária, sob o mote "ficha criminal de Trump".

Durante toda a semana, será exibido na turística Times Square, em Nova York, um painel com a foto do republicano ao ser fichado, acompanhado das 91 acusações criminais que pesam contra ele na Justiça. Ao final, a frase: "Ninguém está acima da lei. Nem mesmo ex-presidentes".

Além do painel, um vídeo de um minuto também está sendo veiculado nos intervalos do canal Fox News em Phoenix (Arizona), Milwaukee (Wisconsin) e Atlanta (Geórgia). Os três Estados, onde o democrata Joe Biden venceu por uma diferença mínima de votos, foram cruciais na disputa presidencial de 2020.

"Nós vemos o que acontece quando as pessoas acreditam que nada importa", diz a narradora, enquanto imagens da invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, são exibidas. "Esta é a América. Ninguém está acima da lei. Por isso importa que Donald Trump enfrente as consequências de suas ações."

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A campanha foi organizada pelo Republican Accountability Project (RAP), que apoia congressistas do partido que desafiaram Trump ao questionar a tentativa de reverter a eleição. O projeto também diz promover candidatos ao Legislativo que desafiem nas primárias nomes que apoiaram o ex-presidente.

O RAP é uma das iniciativas da organização sem fins lucrativos “Defendendo a Democracia Juntos”, fundada e dirigida por republicanos. Entre seus diretores estão membros da gestão Ronald Reagan: Linda Chavez, Mona Charen e William Kristol, que também foi chefe de gabinete da vice-presidência no governo George Bush pai.

O desafio da proposta é mudar a opinião da base do partido, majoritariamente favorável a Trump, que o vê como perseguido politicamente. A mug shot vem sendo explorada pelo empresário com esse fim.

Segundo a campanha do ex-presidente, mais de US$ 7 milhões (R$ 34 milhões) foram arrecadados entre a divulgação da foto e o último sábado, dia em que as doações teriam batido recorde. Uma série de produtos com a imagem de Trump fichado, como canecas e camisetas, também estão à venda.

"Se há quem queira apoiar ainda mais Trump, vamos trabalhar para lembrar que essas acusações são sérias. Falaremos a verdade ao povo americano, porque Trump não vai", diz o porta-voz John Conway.

Nesta segunda, a juíza Tanya Chutkan marcou para 4 de março de 2024 o julgamento do ex-presidente no caso federal em que ele é acusado de tentar reverter a derrota nas eleições. A data é a véspera da Super Terça, o dia mais importante das primárias republicanas, quando um grande número de estados vota.

"Como isso vai afetar a eleição e como o processo vai evoluir, nós vamos ter que esperar para ver", afirma Conway. "Nós estamos em território desconhecido aqui."