GUARULHOS, SP - A repressão do regime teocrático do Irã em meio a protestos que já duram um mês tem mirado também profissionais da imprensa. Ao menos 18 mulheres jornalistas foram presas pelas autoridades, segundo monitoramento de uma ONG especializada no tema. A cifra agrava a dianteira do Irã como país que mais encarcera jornalistas mulheres, de acordo com a Coalizão para Mulheres no Jornalismo, de Nova York. Ao todo, 38 estão detidas no país, seguido por três autocracias: China (16), Belarus (10) e Mianmar (9).Outros monitoramentos paralelos corroboram o cenário de assédio judicial e a tentativa de asfixiar a liberdade de imprensa no país do Oriente Médio.

Até a última segunda (10), o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ, na sigla em inglês) havia relatado 40 prisões de profissionais da imprensa em meio aos recentes protestos. A onda de mobilização, uma das maiores desde a Revolução de 1979, teve início após a morte da jovem curda Mahsa Amini, de 22 anos, quando estava sob custódia da polícia moral do país. Detida em Teerã por supostamente não usar o hijab, o véu islâmico, da maneira correta, ela foi levada para uma delegacia e, dali, foi para o hospital. O regime alega que Amini morreu em decorrência de um problema cardíaco, versão que a família e ativistas contestam - ela teria sido vítima de agressões dos agentes. O pai da jovem afirma que foi impedido de ver o relatório da autópsia do corpo da filha.

Manifestantes iranianos protestam em uma rua na cidade de Zahedan contra a morte de Mahsa Amini após sua prisão pela polícia moral em Teerã por supostamente descumprir o rígido código de vestimenta da república islâmica para mulheres
Manifestantes iranianos protestam em uma rua na cidade de Zahedan contra a morte de Mahsa Amini após sua prisão pela polícia moral em Teerã por supostamente descumprir o rígido código de vestimenta da república islâmica para mulheres | Foto: UGC / AFP

Desde a morte de Amini, em 16 de setembro, centenas de protestos, majoritariamente liderados por mulheres, vêm sendo conduzidos em diferentes partes do país. Os atos ganharam volume e força à medida que estudantes e universitárias se somaram à mobilização. O regime tem minimizado os atos e manifestantes. O líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, disse nesta sexta (14) que nenhum cidadão deve pensar que poderá abalar a cúpula no poder. Ele comparou o regime a uma árvore inabalável: "Aquela muda é uma árvore poderosa, e ninguém deve ousar pensar que pode arrancá-la".

Uma das jornalistas presas desde o início da mobilização é Niloofar Hamedi, especializada em direitos das mulheres e repórter do jornal Al Sharq. Ela foi uma das primeiras profissionais da imprensa a detalhar o caso da morte de Amini para o público. Mohammad Ali Kamfirouzi, seu advogado, informou no último dia 22 que agentes da inteligência iraniana invadiram a casa de Hamedi, confiscaram pertences e a prenderam. Ela ainda não foi formalmente acusada, mas está sendo mantida em uma solitária na prisão de Evin. O estopim teria sido a publicação de uma foto dos pais de Amini chorando no hospital onde a filha havia sido internada. A conta no Twitter da jornalista, pouco depois, apareceu como suspensa.