SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Partido Comunista de Cuba reagiu à repercussão dos atos organizados contra o regime, há uma semana, e convocou milhares de apoiadores para se manifestarem nas ruas de Havana. Eles protestaram contra o embargo comercial imposto pelos Estados Unidos e reafirmaram apoio à Revolução Cubana.

Os grupos se reuniram na capital no sábado (18). Eles agitaram bandeiras de Cuba e do Movimento 26 de Julho (grupo revolucionário que derrubou o ditador Fulgêncio Batista, em 1959). Havia também cartazes com fotos de Fidel Castro (1926-2016) e de seu irmão mais novo, Raúl, que compareceu aos atos com seu uniforme de general.

Raúl, 90, deixou de atuar na liderança do Partido Comunista em abril, encerrando um período de mais de seis décadas em que os irmãos Castro comandaram o país. Desde então, esta foi a primeira vez em que ele participou de atos públicos.

Os manifestantes foram convocados por grupos que se dividem por bairros e são conhecidos como "comitês de defesa da revolução". Segundo Margaritza Arteaga, assistente social que participou dos atos e deu entrevista à agência de notícias Reuters, esses comitês enviaram ônibus para trazer os apoiadores a Havana. Ela contou que havia embarcado ainda de madrugada rumo ao local do ato.

"Com ou sem pandemia, temos que defender [a Revolução Cubana] e aqui estamos, nos protegendo e nos cuidando, porque também temos que defender o que é nosso", disse o professor Héctor Román, 73, que participou do ato, à agência de notícias AFP.

Aos gritos de "abaixo os ianques", a manifestação foi uma resposta aos protestos que eclodiram em várias partes do país no último domingo (11) em meio à escassez generalizada de produtos básicos, demandas por direitos políticos e liberdade de expressão, e o pior momento epidemiológico da ilha desde o início da pandemia. A ilha de 11,2 milhões de habitantes acumula mais de 275 mil casos de Covid-19 e 1.843 mortes, segundo dados compilados pela Universidade Johns Hopkins.

Após os atos da semana passada, o regime liberou a entrada de alimentos e remédios sem restrições a partir desta segunda-feira (19), mas acusou os manifestantes críticos ao comando do país de serem financiados pelos EUA.

O líder do país, Miguel Díaz-Canel, que acumula os cargos de presidente e dirigente do Partido Comunista, disse aos apoiadores que "o inimigo de Cuba se lançou mais uma vez para destruir a sagrada unidade e tranquilidade dos cidadãos. Convocamos vocês para denunciar mais uma vez o embargo, a agressão e o terror", disse. Segundo ele, existe um ódio transbordante nas redes sociais contra Cuba, mas o que mundo está vendo sobre a ilha é uma mentira que causou danos imensuráveis à alma nacional.

Díaz-Canel afirmou ainda que o regime cubano não reprime seu povo e que falsas imagens publicadas na internet glorificam o desacato e a destruição de bens. "Nenhuma mentira foi levantada por acaso ou por engano. Tudo é friamente calculado em um manual de guerra não convencional", acrescentou o líder cubano voltado a acusar os americanos de fomentarem a revolta popular.

Pouco antes do início do ato oficial na capital, as autoridades cubanas detiveram um homem que gritava palavras de ordem contra o regime no meio da multidão. Segundo testemunhas, ele bradou "liberdade" e "pátria e vida", título de uma canção que se tornou uma espécie de hino dos críticos ao regime.

O número exato de pessoas detidas durante ou após os protestos da semana passada ainda é desconhecido, mas a última contagem do grupo de defesa de direitos humanos Cubalex estima ao menos 450 presos, embora parte desse total já tenha sido libertada. O regime não forneceu dados oficiais sobre as prisões, mas disse que algumas pessoas foram detidas sob suspeita de instigar "distúrbios anti patrióticos" ou de praticar atos de vandalismo.