Brasília - O presidente eleito do Paraguai, Santiago Peña, afirmou que compartilha a visão do governo brasileiro de que o instrumento adicional do acordo União Europeia-Mercosul, com foco na questão ambiental, contém restrições "muito duras" para países em desenvolvimento.

Lula e Peña se reuniram por cerca de uma hora no Palácio do Planalto, em Brasília
Lula e Peña se reuniram por cerca de uma hora no Palácio do Planalto, em Brasília | Foto: Evaristo Sá/AFP

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Peña se reuniram por cerca de uma hora nesta terça-feira (16) no Palácio do Planalto, em Brasília. O paraguaio foi eleito em abril deste ano e tomará posse em agosto.

Após o encontro, Lula escreveu em suas redes sociais que teve uma ótima conversa com o paraguaio e que foi convidado para a sua posse, em agosto. "Excelente conversa com o presidente eleito do Paraguai, @SantiPenap. Agradeço o convite para sua posse em agosto e vamos trabalhar muito juntos para fortalecer as relações entre nossos países", escreveu.

Peña afirmou a jornalistas brasileiros que é favorável ao acordo de livre comércio entre União Europeia e Mercosul. No entanto, também discorda dos termos do chamado "site letter", um instrumento adicional ao acordo, que foca sobretudo nas questões ambientais, impondo novas restrições.

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"Nós estamos a favor desse acordo e também compartilhamos da visão do Brasil de que algumas restrições, principalmente em termos ambientais, são muito duras para uma região do mundo que precisa se desenvolver. E precisa se desenvolver sendo cuidadoso com o meio ambiente", afirmou o presidente.

"Eu sou muito consciente do desafio que o Paraguai tem nesse sentido. O Paraguai é um país muito grande, que está se desenvolvendo. Mas temos que fazê-lo em função também dos interesses do Paraguai, dos paraguaios e de todos os países do Mercosul", completou.

O presidente paraguaio eleito afirmou que, por enquanto, não está discutindo a revisão de nenhum aspecto em particular do acordo de livre comércio.

Peña também afirmou ser a favor da revisão do tratado referente à usina de Itaipu. O próximo mandatário afirmou que o Paraguai não quer ser apenas um "Estado rentista", em relação ao aproveitamento da usina, significando que não tem interesse apenas em vender o excedente da energia para o Brasil.

"O Paraguai tem o grande desafio de gerar emprego. E nós colocamos como objetivo gerar 500 mil empregos nos próximos cinco anos. Temos que melhorar o capital humano, a educação e a saúde. Nossa visão é como desenvolver o Paraguai, não com uma política rentista, vendendo a energia, mas utilizando a energia. O Paraguai tem o desafio de utilizar a energia", afirmou o futuro presidente paraguaio.

"Mas, além da utilização da energia, Itaipu pode ser uma fonte de desenvolvimento. Há 50 anos, o objetivo do tratado foi construir e pagar uma hidroelétrica. 50 anos depois, se cumpriu esse objetivo. Agora a pergunta é o que queremos para os próximos 50 anos. E a proposta do Paraguai é que Itaipu seja uma fonte de desenvolvimento no processo de integração. Investimentos que permitam desenvolver as hidroelétricas, que permitam gerar oportunidades de emprego para paraguaio e para brasileiros também", completou.

Peña afirmou que a revisão do tratado não estará apenas restrita às questões financeiras, de venda de energia. Esses termos estão presentes no chamado Anexo C.

"Nada impede que possamos discutir todos os tratados, anexo A, anexo B. Não estamos apenas limitados a revisar as condições financeiras, mas também temos que estabelecer qual é o papel que vai cumprir esse grande empreendimento binacional", afirmou.

O presidente eleito também acrescentou que vai restabelecer as relações com a Venezuela, como havia prometido durante a campanha eleitoral. E que não haverá condições impostas para que isso seja feito.

O conservador Santiago Peña, 44, superou o liberal Efraín Alegre, 60, e foi eleito contrariando as expectativas de um pleito acirrado. O partido Colorado alcançou sua vitória mais folgada contra a oposição em 25 anos.

O economista de direita assume o governo em agosto e garante mais cinco anos de hegemonia à sigla, que já comanda o país há quase 70 anos. A exceção foi a gestão do ex-bispo de esquerda Fernando Lugo, de 2008 a 2012, que sofreu um impeachment a meses de completar o mandato.