Depois de uma semana de violentos protestos no Iraque, o presidente Barham Saleh defendeu nesta quinta-feira, 31, a realização de eleições antecipadas e assegurou que o primeiro-ministro, Adel Abdelmahdi, está disposto a renunciar se houver um acordo entre as forças políticas para evitar um vazio de poder.

"Afirmo meu apoio a eleições antecipadas, com uma comissão eleitoral nova e independente, pois a legitimidade vem do povo", declarou Saleh em discurso à nação. Ele prometeu ainda que seu governo criará uma nova lei eleitoral e uma comissão com observadores independentes, incluindo da ONU, para impedir fraudes.

Saleh assegurou que o premiê está disposto a apresentar sua demissão desde que as forças políticas cheguem a "um entendimento sobre um substituto, no marco da Constituição". O presidente disse que mantém reuniões com os movimentos populares e forças políticas para levar adiante "as reformas necessárias dentro do marco legal para proteger a estabilidade do Iraque".

Saleh se referia às reformas econômicas, políticas e sociais que os iraquianos vêm pedindo nas ruas desde o início de outubro, quando começou a primeira onda de protestos. Eles também protestam contra a corrupção e a falta de serviços públicos básicos. Mais de 250 pessoas morreram e milhares ficaram feridas desde o início dos protestos, que foram duramente reprimidos.

"A situação atual não pode continuar, necessitamos de reformas sérias e grandes mudanças", admitiu Saleh, após ter manifestado apoio às demandas da população. Não ficou claro, no entanto, quando as mudanças prometidas serão implementadas. O presidente também se manifestou sobre a violência registrada nas ruas entre manifestantes e as forças de segurança, que em uma semana deixou mais de 150 mortos e 5 mil feridos.

"Não é aceitável a repressão nem o uso da força e da violência", disse. Ele lembrou que é importante que as armas estejam exclusivamente nas mãos do Estado, referindo-se à existência de milícias que teriam se infiltrado nos protestos, em algumas ocasiões, para provocar a violência.

A ONG Anistia Internacional denunciou nesta quinta que cinco manifestantes morreram em Bagdá ao serem atingidos por bombas de gás lacrimogêneo "rompe-crânios" disparadas pelas forças de segurança e pediu ao governo iraquiano que deixe de usar esse tipo de arma. Segundo a ONG, esse tipo de granada, de origem búlgara ou sérvia, nunca tinha sido usada no Iraque e seu objetivo era "matar, não dispersar" os manifestantes. As bombas de gás lacrimogêneo, normalmente usadas pelas polícias do mundo todo têm entre 25 e 50 gramas, mas as que mataram os manifestantes pesam entre 220 e 250 gramas e seu impacto é dez vezes maior, segundo a Anistia. (Com agências internacionais).

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.