SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, anunciou sua renúncia nesta sexta-feira (28), em meio a especulações crescentes sobre seu estado de saúde após visitas recentes ao hospital.

"Decidi renunciar ao cargo de primeiro-ministro", afirmou Abe em uma entrevista coletiva, em Tóquio. Aos 65 anos, o líder japonês explicou que voltou a sofrer de colite ulcerativa e que está novamente em tratamento. A doença intestinal inflamatória crônica é a mesma que o forçou a deixar o poder em 2007, durante seu primeiro mandato como chefe do governo.

Abe governa o Japão de forma ininterrupta desde 2012, sendo o premiê mais longevo da história do país. Sem esconder a emoção, afirmou que está "profundamente triste" e pediu "desculpas do fundo do coração" por deixar o posto um ano antes da data prevista e em plena crise causada pelo coronavírus.

"Não posso continuar sendo primeiro-ministro se não tiver a confiança de que posso realizar o trabalho que o povo me confiou", disse, mas acrescentou que vai continuar cumprindo suas funções até que seu sucessor seja nomeado.

O novo chefe de governo do Japão será o vencedor das eleições para a presidência do Partido Liberal Democrático (LDP), atualmente liderado por Abe, e deve permanecer no cargo de primeiro-ministro até setembro de 2021.

Abe não fez comentários sobre seu possível sucessor, mas afirmou que "todos os nomes que circulam fazem referência a pessoas muito capacitadas".

Entre os nomes mais cotados, estão Yoshihide Suga, chefe de gabinete e porta-voz do governo, e Taro Aso, ministro das Finanças. De acordo com a imprensa japonesa, Shigeru Ishiba, ex-ministro da Defesa, e Fumio Kishida, ex-ministro das Relações Exteriores, também expressaram interesse na posição.

"Pode acontecer uma situação política confusa. A renúncia terá um grande impacto na política japonesa", disse o cientista político Shinichi Nishikawa à agência de notícias AFP. "A renúncia de Abe acontece no momento em que o Japão enfrenta desafios importantes, como a gestão da pandemia de coronavírus."

Para analistas, quem quer que ganhe a votação do partido provavelmente manterá as medidas econômicas de Abe, mas pode ter problemas para ter a mesma longevidade política, considerada por muitos o maior legado do premiê.

"Houve vários problemas, mas se outra pessoa tivesse sido o líder, é questionável se eles poderiam ter mantido um governo estável por tanto tempo quanto Abe", disse Naohito Kojima, funcionário de uma corretora japonesa, à Reuters. "Ele fez várias negociações diplomáticas e acho que os prós superaram os contras."

Na última segunda-feira (24), Abe bateu o recorde de mais longo mandato consecutivo como primeiro-ministro do Japão. A marca anterior havia sido estabelecida por seu tio-avô, Eisaku Sato, que liderou o país de 1964 a 1972 e ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1974 por sua atividade em prol do tratado de não proliferação de armas nucleares.

Da ala conservadora da política do Japão, Abe assumiu seu segundo mandato como primeiro-ministro em dezembro de 2012, prometendo reanimar o crescimento econômico do país. Ele também se comprometeu a fortalecer as defesas japonesas e pretendia revisar a constituição pacifista.

Em uma mudança histórica em 2014, seu governo reinterpretou as leis do país para permitir que as tropas japonesas lutassem no exterior pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial.

Abe também foi fundamental para o sucesso da candidatura do Japão como sede dos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020, embora a competição tenha sido adiada devido à pandemia de coronavírus.

"Devemos cumprir nossa responsabilidade como país anfitrião das Olimpíadas", disse Abe em entrevista coletiva. “Claro, acredito que meu sucessor trabalhará para sediar as Olimpíadas sob a mesma crença.”

REAÇÕES À RENÚNCIA DE SHINZO ABE

Em uma publicação no Twitter, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, disse que Abe "conquistou grandes feitos por seu país e pelo mundo".

"Sob sua administração, a relação Reino Unido-Japão tem se fortalecido cada vez mais no comércio, na defesa e em nossos laços culturais", escreveu o britânico. "Obrigado por todos os seus anos de serviço, e desejo boa saúde."

Na Rússia, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, lamentou a renúncia, elogiou "a contribuição inestimável" de Abe e descreveu as relações entre o líder japonês e o presidente Vladimir Putin como "brilhantes".