Santarém, PA e São Paulo - O Parlamento Europeu vota com urgência nesta quinta-feira (7) uma resolução que pede às autoridades brasileiras a investigação independente e imparcial sobre os assassinatos do jornalista Dom Philips e do indigenista Bruno Pereira.

"O parlamento condena a violência crescente contra defensores ambientais e lamenta os ataques verbais e declarações intimidadoras do presidente Bolsonaro", afirma a resolução. O presidente Jair Bolsonaro havia afirmado que Dom e Bruno estavam em uma aventura não recomendável.

O documento pede que a delegação da UE no Brasil preste apoio aos defensores dos povos indígenas como Dom e Bruno
O documento pede que a delegação da UE no Brasil preste apoio aos defensores dos povos indígenas como Dom e Bruno | Foto: Isaac Fontana/CJ Press/Folhapress

O texto também pede às autoridades brasileiras ações imediatas para prevenir violações a direitos humanos e para proteger defensores ambientais.

LEIA TAMBÉM

+ Sumiço de Bruno e Dom tem relação com 'máfia dos peixes', diz prefeito

+ Queimadas na Amazônia impactam 90% das espécies de animais e plantas

"A exploração ilegal de ouro ameaça as florestas e a biodiversidade em áreas protegidas, expondo populações indígenas a contaminações e aumentando o desmatamento, especialmente na Amazônia brasileira", diz a resolução.

"[A aprovação da resolução] é um forte sinal de que o parlamento europeu condena claramente os assassinatos cada vez mais frequentes de indígenas e defensores do meio ambiente no Brasil e identifica claramente a responsabilidade do governo Bolsonaro na crescente violência contra os povos indígenas, bem como nas crescentes taxas de desmatamento a ela associadas", afirma a eurodeputada do Partido Verde Alemão Anna Cavazzini, que também é vice-presidente da delegação sobre as relações com o Brasil e uma das negociadoras da resolução.

O parlamento europeu deve votar em setembro uma proposta de legislação para proibir a importação de commodities ligadas a desmatamento, o que deve afetar matérias-primas exportadas pelo Brasil como carne bovina, madeira e soja.

A deputada portuguesa Isabel Santos, que lidera a movimentação, diz que o atual governo brasileiro já vinha sendo motivo de preocupação entre deputados da União Europeia, mas que a morte de Phillips e Pereira impulsionou o movimento.

"[Os assassinatos] acabaram por gerar maior consenso entre diferentes grupos parlamentares para que se apresentasse de fato esta resolução'', segue. Ela também afirma que Amazônia é um território que precisa de proteção.

"[A atual situação] não pode ficar sem crítica. O que está a correr é a aplicação daquilo que foram as promessas do presidente Jair Bolsonaro mesmo ainda antes de ser eleito", completa.

Os deputados europeus pedem que o governo brasileiro cumpra os compromissos do Acordo de Paris, reestabeleça e fortaleça o funcionamento de órgão como o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e a Funai (Fundação Nacional do Índio) e aplique uma legislação mais dura contra o desmatamento ilegal.

O Parlamento Europeu conta com 705 deputados - é preciso maioria simples para aprovar a resolução. A expectativa, segundo Santos, é que ela seja aceita.

"A resolução é toda ela baseada em fatos, e o grau de compromisso que já se atingiu na sua negociação por parte dos diferentes partidos mostra que estão criadas as condições para que [a proposta] seja votada favoravelmente", diz a eurodeputada.

O documento também pede que a delegação da UE no Brasil acompanhe de perto o estado da democracia no país e preste apoio aos defensores de direitos humanos e aos povos indígenas.

Receba nossas notícias direto no seu celular! Envie também suas fotos para a seção 'A cidade fala'. Adicione o WhatsApp da FOLHA por meio do número (43) 99869-0068 ou pelo link wa.me/message/6WMTNSJARGMLL1.