SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O acordo firmado para normalizar as relações diplomáticas entre Israel e Emirados Árabes Unidos, com intermédio do presidente americano, Donald Trump, gerou reações diversas entre lideranças mundiais.

Comemorado como um ato histórico pelos três países e por parte de seus aliados, o tratado desta quinta-feira (13), foi considerado "perigoso e ilegítimo" pelo Irã.

De acordo com um comunicado do Ministério das Relações Exteriores do Irã, o pacto firmado é "uma estupidez estratégica de Abu Dhabi e Tel Aviv".

"A vergonhosa medida de Abu Dhabi para chegar a um acordo com o falso regime sionista [Israel] é um movimento perigoso, e os Emirados Árabes Unidos e outros Estados que o apoiaram serão responsáveis por suas consequências", diz a nota do regime de Teerã.

Embora a oposição ao Irã -visto como ameaça por EUA, Israel e Emirados Árabes- não seja o objetivo explícito do acordo assinado pelos três países, a medida recrudesce o antagonismo contra o regime dos aiatolás.

De um lado, Israel e EUA acusam o país persa de desenvolver armas nucleares, o que Teerã nega.

De outro, o Irã está envolvido em guerras por procuração da Síria ao Iêmen, onde os Emirados Árabes Unidos têm sido um dos principais membros da coalizão saudita, contrária às forças iranianas na região.

A decisão, ainda segundo o ministério iraniano, "apunhala os palestinos pelas costas" e deve "fortalecer o eixo de resistência na região".

"O povo oprimido da Palestina e todas as nações livres do mundo nunca perdoarão a normalização das relações com o ocupante e o regime criminosos de Israel".

Na narrativa dos países árabes, os palestinos sempre foram considerados uma trava a qualquer entendimento com o Estado israelense. Os conflitos entre árabes e judeus já duram séculos e foram mais acentuados a partir do reconhecimento de Israel como um país, em 1948, e das disputas territoriais com a Palestina.

Historicamente, judeus recorrem aos textos sagrados da Bíblia e da Torá para reivindicar o direito de posse das terras. Por esse motivo, os Emirados Árabes também foram acusados de traição pelo governo da Turquia, que defende que o povo e os líderes palestinos estão certos em reagir fortemente contra o acordo.

"A história e a consciência dos povos da região não esquecerão e nunca perdoarão esse comportamento hipócrita dos Emirados Árabes Unidos, traindo a causa palestina por causa de seus estreitos interesses", afirma um comunicado do ministério turco das Relações Exteriores.

Fervoroso defensor da causa palestina, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, critica com frequência os países árabes, que na sua visão não adotam uma atitude suficientemente firme diante de Israel. Turcos e israelenses mantêm laços diplomáticos, mas as relações têm sido tensas há anos.

Nesta sexta (14), Erdogan disse a jornalistas em Istambul que está considerando fechar a embaixada turca em Abu Dhabi e suspender as relações diplomáticas com os Emirados Árabes.

O movimento islâmico palestino Hamas, que detém o poder na Faixa de Gaza, disse que o pacto representa um "cheque em branco" para a ocupação da Cisjordânia.

"Rejeitamos e condenamos esse acordo. Não ajuda a causa palestina e é visto como uma continuação da negação dos direitos do povo palestino", disse Hazem Qasem, porta-voz do Hamas.

No acordo, Israel concorda em "suspender a declaração de soberania" sobre áreas da Cisjordânia que constam no projeto de anexação do território -ao menos por um período.

Entretanto, o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, horas depois da divulgação do tratado, afirmou que a suspensão foi um pedido do presidente Trump para que o acordo pudesse ser implementado e que Israel não desistiu do projeto.

Apesar das críticas, a maior parte das lideranças mundiais saudou o acordo como um passo em direção à estabilidade do Oriente Médio.

Nesta sexta, um porta-voz da Comissão Europeia disse que o acordo beneficiaria Israel e Emirados Árabes Unidos, e reafirmou o compromisso do bloco com a solução dos conflitos na região.

"Ambos os países são nossos parceiros. Estamos comprometidos com uma solução de dois Estados e, claro, prontos para trabalhar na retomada das negociações entre israelenses e palestinos."

A Alemanha afirmou que se trata de uma "contribuição significativa para a paz na região", que "permitirá dar um novo impulso ao processo de paz no Oriente Médio".

Por sua vez, a França viu no acordo um "novo estado de espírito" que deve "permitir a retomada das negociações entre israelenses e palestinos com vistas ao estabelecimento de dois Estados".

O Reino Unido classificou a decisão como uma "etapa histórica" e disse que as negociações diretas na região são a "única solução para a chegar a uma paz duradoura".

No Egito, o presidente Abdel Fatah Al-Sissi disse apreciar "os esforços dos idealizadores deste acordo pela prosperidade e a estabilidade da nossa região".

Em 1979, também com mediação dos EUA, o Egito assinou o primeiro tratado de paz de um país árabe com Israel. Quinze anos depois, em 1994, foi a vez da Jordânia. O acordo assinado pelos Emirados Árabes é o terceiro da história.